terça-feira, 29 de dezembro de 2015

EDUCAÇÃO NO CAMPO

Fotos: Daniel Filho

“Não vou sair do campo pra pode ir pra escola, educação do campo é direito e não esmola”
Refrão de canção entoada pelo Movimento dos Sem Terra

No dia 23 participamos da formatura da turma do EJA Campo, séries iniciais, de Petrolândia no assentamento Canaã, localizada na estrada da reta. Ouvimos relatos que ilustraram o sofrimento e persistência de acampados para garantir o direito a essa modalidade de ensino.
Dificuldade de acesso, ausência de iluminação no início das aulas foram algumas das dificuldades narradas até aquele momento. Nas falas dos participantes da mesa o reconhecimento do esforço coletivo de estudantes e professora para a construção do conhecimento voltado para os saberes do campo, além da promessa de muita luta:

“Há questões básicas para o enfrentamento e cobranças em 2016: o fechamento de escolas. Nós do movimento temos como princípio uma escola do campo, com uma pedagogia própria do movimento com educadores e educadoras formadas dentro dos moldes ideológicos do movimento. No ano de 2016 vamos fazer muitas batalhas relacionadas a reabertura de escolas nos assentamentos de reforma agrária e nos acampamentos. Vamos cobrar das autoridades, seja municipal, estadual ou federal, vamos fazer as lutas para que as famílias tenham conquistas efetivas em um ano que será tão marcante na história do movimento: 20 anos de impunidade de Eldorado dos Carajás”.
Francisco Terto – coordenador do MST Petrolândia   

A educação é vista como emancipação social, cultural e política. As aulas são organizadas em regime de alternância intercalando um período de convivência na sala de aula com outro no campo. O professor precisa conhecer a realidade da comunidade quando no período em que as salas estão vazias para melhor produzir suas aulas e projetos educacionais.

HISTÓRIA

A metodologia foi criada por camponeses da França em 1935. A intenção era evitar que os filhos gastassem a maior parte do dia no caminho de ida e volta para a escola ou que tivessem de ser enviados de vez para morar em centros urbanos. No Brasil, a iniciativa chegou com uma missão jesuíta, no Espírito Santo, em 1969. Logo se espalhou por 20 estados, em áreas onde o transporte escolar é difícil e a maioria dos pais trabalha no campo. Os alunos têm as disciplinas regulares do currículo do Ensino Fundamental e do Médio, além de outras voltadas à agropecuária. Quando retornam para casa, devem desenvolver projetos e aplicar as técnicas que aprenderam em hortas, pomares e criações.
Até 1998, os estudantes que se formavam nessas instituições ainda precisavam prestar um exame supletivo para conseguir o diploma, mas no ano seguinte o regime foi legitimado pelo MEC. Hoje, são 258 escolas com pelo menos 20 mil estudantes em todo país - e índices de evasão baixíssimos (veja o mapa).



Fonte: Nova Escola


Pela garantia da educação no campo e pela disseminação do formato da alternância para vermos concretizar a formação plena do cidadão tomando posse de seus saberes em defesa do coletivo.
Abaixo vídeo que traça o perfil da educação e fotos da formatura do EJA CAMPO no Canaã.



Foto: Natan Caetano

















sábado, 26 de dezembro de 2015

IMPEACHMENT NO GOVERNO DOS OUTROS É REFRESCO

Imagem: Digitalizada do plano de governo

Em fala ao Blog do Magno o prefeito de Petrolândia, Lourival Simões, se mostrou favorável ao impedimento do mandato da presidenta Dilma Rousseff, contrariando o posicionamento de diversos juristas e do próprio partido (PSB): “O País chegou a um estágio tão degradante de corrupção e indecência que não dá mais para conviver com uma presidente que não governa, que perdeu todas as condições e o respeito do povo brasileiro”.


Foto: Daniel Filho

Sua insatisfação chegou ao ponto de sequer participar da inauguração da segunda Estação de Bombeamento-EBV-2, do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco em Floresta, um dos poucos gestores municipais a não comparecer.
Como cidadão tem o direito democrático legítimo de se posicionar como desejar, mas, como gestor, tem legitimidade moral para se posicionar a favor do impeachment? Vamos analisar:

IMPEACHMENT: MOTIVAÇÕES

Pedalas fiscais são a principal base de apoio para “justificar” o andamento do processo. Simplificando trata de um procedimento administrativo do governo em adiar uma despesa. Com dificuldades para arrecadar e sem conter gastos, governos (federal, estaduais e municipais) buscam melhorar as estatísticas das contas públicas adiando as despesas de um mês para o outro. O Tribunal de Contas apresenta um parecer com recomendações de aprovação ou rejeição que serão, posteriormente, analisadas por parlamentares.
Notícias acerca de problemas nas contas da prefeitura de Petrolândia foram comuns em seus dois mandatos, como podemos ver nos dois exemplos abaixo:

CONTAS REJEITADAS PREVIAMENTE, DEPOIS ACEITA COM RESSALVAS (2009):


PREFEITO MULTADO POR TER CONTAS DA PREFEITURA REJEITADAS (2012):

Além dos “ajustes” feitos para garantir o pagamento dos servidores municipais, como cancelamento de todas as festividades do município, demissões e não realização de concurso público, por exemplo. Portanto, na principal argumentação da tese, o prefeito não tem muito o que apontar sem ser apontado.

CORTE DE ÁGUA

Em nota denunciou que cerca de cinco (5.000) mil pessoas ficaram sem água para abastecimento humano por corte de energia no bombeamento do reservatório da EB1, no Icó-Mandantes. O problema é que sua preocupação só se dá quando a falha é da esfera estadual ou federal. Centenas de famílias convivem com a escassez de água em assentamentos, acampamentos e no Bairro Nova Esperança.
Problema que seria resolvido facilmente com recursos próprios do município ou mesmo captação de recursos estaduais e federais. Mas não resolve.

INCOMPETÊNCIA EM GOVERNAR

Soma-se a esse ponto a incompetência de tentar unir as partes políticas para resoluções, visto que provoca, em notas que deveriam buscar união dos poderes para resolução, todos que se oponham a sua gestão. Convoca a união política “sem conversa torta ou fiada”. Não tem maioria na câmara de vereadores e, os poucos da situação que ficaram, não conseguem tecer defesas a sua gestão. Além das constantes dança de cadeiras entre líderes de governo (ora o vereador Sílvio Rogério, depois o vereador Eudes Fonseca, depois voltou para Sílvio...). Os índices de rejeição de sua gestão são tão altos quanto o da presidenta. Logo, como clamar pelo impeachment por ingovernabilidade?

ESTELIONATO ELEITORAL

Sinceramente os dois planos de governo do atual gestor são perfeitos e podem ser assumidos por qualquer pré-candidato. Não somente pelo fato de ter sido construído junto às comunidades, mas, principalmente, porque quase nada foi cumprido. Onde estão as trezentas (300), depois trezentas e cinquenta (350), depois quatrocentas (400) casas do Minha Casa, Minha Vida? As creches, que receberam os recursos federais para serem construídas? A revitalização da orla fluvial com a construção do píer? O auxílio financeiro prometido aos professores da zona rural, contratados, que não têm opção de transporte público, e péssimas estradas, para chegarem em suas escolas? Central de Informações do Agricultor? Ampliação da eletrificação rural (agora o problema se agrava, pois a área urbana também enfrenta problemas com iluminação pública)? Além de diversos Termos de Ajuste de Conduta (TAC) assinados e não cumpridos. Para ajudar na análise do leitor do “que foi prometido e ninguém prometeu”, seguem os dois planos de governo.





É POSSÍVEL CONVIVER COM UM GOVERNANTE QUE NÃO GOVERNA?

Sim, desde que...
 Assuma a inabilidade política aberto à mudanças significativas;

Seja transparente e complacente com os que pensam diferente;

Faça das críticas porto seguro para melhoria de sua gestão e não as tome para o lado pessoal;

Não faça do público, privado (nem privada).
Vale lembrar todas as alianças que fez com o PT e movimentos sociais até aqui, foram cruciais para suas vitórias. Assim como, sempre que clamar pelo impeachment da presidenta, lembrar que, “por muito mais”, poderia também sofrer o mesmo processo. Encerramos com a frase da prefeita de Floresta Rosângela Maniçoba, que, com personalidade, antecipou o posicionamento do partido (PSB): “Eu desejo que o governo federal avance. Torcer contra o governo referendado pela escolha popular é torcer contra o Brasil”. Não torça contra o Brasil, prefeito, nós não torcemos contra nosso município, muito menos contra a democracia.

 

Imagem: Acervo.Revitalização da orla fluvial (como deveria ser)



Cadê o píer que deveria estar aqui?



Promessas em entrevistas. 

Fonte: Blog de Assis Ramalho






Promessa em 2012










quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

EM MEIO AOS ESPINHOS, VICEJAR. VISITA DE DILMA A FLORESTA

Fotos: Daniel Filho

Ovacionada, a presidenta Dilma Rousseff inaugurou nessa terça-feira (22) a segunda Estação de Bombeamento-EBV-2, do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco em Floresta. Um ato marcado por fortes discursos femininos que se iniciou com a fala da prefeita anfitriã.

RORRÓ MANIÇOBA

Rorró Maniçoba (PSB), deixou claro seu posicionamento acerca do pedido de impeachment à presidenta Dilma:
“Eu desejo que o governo federal avance. Torcer contra o governo referendado pela escolha popular é torcer contra o Brasil”. A prefeita, com personalidade, antecipa um posicionamento de seu partido contra o processo de impedimento do mandato da presidenta. Fez ainda uma reinvindicação ao governo federal para que assuma os custos dos projetos de irrigação em toda a extensão (vinte mil Km de terras férteis) em que passará a obra de transposição, acreditando ser essa uma excelente alternativa econômica ao município prevendo que, com a irrigação, a cidade possa se desenvolver tal qual Petrolina.

PAULO CÂMARA

Com princípio de vaias quando anunciado, o governador fez um breve discurso. Reconheceu os esforços do governo federal para que não haja paralisação nas obras de transposição, deixando claro o sofrimento do povo nordestino que enfrenta seu quinto ano de estiagem severa em diversos pontos do estado. Evitou falar sobre impeachment e avisou aos presentes:
“Quero desejar a Dilma, aos ministros e todos que estão aqui que contem com Pernambuco. O povo pernambucano vai continuar trabalhando muito por um estado melhor e um Brasil mais desenvolvido.”

DILMA ROUSSEFF

Iniciou sua fala com agradecimentos a todos os trabalhadores responsáveis pela obra, para, na sequência, saudar autoridades presentes.
Apresentou um discurso claro do que se trata a obra e sua importância, mas também forte com relação ao atual cenário político.

SOBRE A TRANSPOSIÇÃO

Sua fala atenta para a importância da obra de transposição do Rio São Francisco enquanto instrumento de convivência com a seca, e não resolução dessa, visto que, segundo sua fala, é impossível uma tecnologia que controle o clima.
“Nós não controlamos nem a chuva, nem a falta de chuva. Mas podemos criar as condições para que a população tenha uma convivência digna e sustentável com a seca. A interligação do São Francisco é essa tecnologia que vai permitir que a gente conviva com a seca e que a gente seja capaz não de acabar, mas de controlar as condições em que ela aparece e afeta a vida das pessoas no semiárido, a vida de populações enormes, fundamentais para a prosperidade do nosso País.”

SECA

Sobre os 126 municípios em situação de emergência reconhecida, a presidenta apontou os atos do governo federal:
“O governo federal tem aqui 1.158 carros-pipa distribuindo água, sob coordenação do Exército, em parceria com os carros-pipa do estado. Nós recuperamos aqui 330 poços, fizemos várias cisternas, temos 112 mil agricultores familiares recebendo Garantia-Safra. Eu cito esses números justamente para sublinhar, para enfatizar, para dizer que nós não deixamos também de ter ações emergenciais, porque ninguém que está com dificuldade de acesso à água pode esperar, a sede não espera, a falta de água para alimentar, para dessedentar as criações, não espera.”

AÇÕES ANUNCIADAS

Além de entregar a segunda estação de bombeamento do Eixo Leste, assinou convênios no valor de R$285 milhões de reais com os estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará, para obras de infraestrutura e abastecimento que levarão água para as comunidades rurais às margens dos canais. Garantiu que a obra será concluída ainda em 2016.

CRISE POLÍTICA

A presidenta dedicou frases simbólicas e fortes para ilustrar seu sentimento:
“Vivemos em um país democrático com um governo que tem um compromisso: o de superar a crise. Nada vai me demover desse caminho. Eu tenho orgulho de ter um patrimônio: meu nome, meu passado e meu presente. Sou daquele tipo muito característico aqui do Nordeste: A gente pode até dar uma ‘envergadinha’, mas não quebra."
Encerrou seu discurso, ao som dos gritos: "Não vai ter golpe!" fazendo um comparativo do mandacaru com a crise que o país atravessa. Citou o mandacaru como representação simbólica do nordestino:
“Acho muito bonito o fato de uma flor tão bonita vicejar em meio aos espinhos, ou seja, se os espinhos são a crise, a flor do mandacaru vai vicejar com a água do Rio São Francisco.”

PETROLÂNDIA

Os que muito falam e criticam, não compareceram, mas o município não deixou de marcar presença. Junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e Movimento dos Sem Terra (MST), o Blog Gota d’água cobriu o evento como convidado.
No palanque, junto à presidenta, diversas lideranças e autoridades, o presidente do STR, senhor José Maurício, entregou, assim como o MST, pauta de reinvindicação a contemplar agricultores, assentados e acampados do município.
Esperamos ver vicejar, entre os espinhos da revolta política seletiva, as flores do desenvolvimento com raízes embasadas na política social coletiva, afinal, do ranço, pouco (ou nada) nasce.













segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

VISITA DE DILMA A FLORESTA


Na tarde de ontem (20), na atual sede do Movimento dos Sem Terra (MST) no município de Petrolândia, o assessor da secretaria de governo da presidência da república, Ubirajara Augusto, concedeu uma breve e exclusiva entrevista ao Blog Gota d’água sobre a visita da presidenta da república à Floresta que acontecerá amanhã (22) a partir das 15:00Hrs.
Daniel Filho – Gostaria que o senhor comentasse o que representa esse ato da presidenta Dilma Rousseff na próxima terça-feira (22) em meio a toda essa crise posta constantemente na mídia.
Ubirajara Augusto – Olha, a presidenta está mais preocupada com a população, preocupada que o povo possa ser beneficiado, que o sertão tenha água e mais investimento. É com isso que a presidenta está preocupada e por isso estamos aqui trabalhando para a inauguração de mais uma etapa da transposição do rio São Francisco para matar a sede das populações sertanejas que não tinham água. Será na próxima terça-feira, às 15:00 (Floresta).

DF – Qual a importância dos movimentos sociais se fazerem presentes nessa inauguração?
UA – A presença dos movimentos é muito importante para poderem ouvir o que a presidenta tem a dizer sobre a transposição, ouvirem a respeito da proposta do governo para o desenvolvimento social e das comunidades.

DF – o Blog abre espaço para que possa deixar sua mensagem ao povo do sertão de Itaparica.
UA – Primeiro dizer que o governo tem essa preocupação de melhorar a vida dos trabalhadores, mas é importante que estejam organizados para poder apresentar projetos e o governo saber como apoiar o desenvolvimento local, pois não adianta fazer um projeto de cima para baixo. Por isso que os movimentos sociais são muito importantes nesse processo.

Por isso convidamos toda a população a estar lá na inauguração dessa nova etapa da obra.



Francisco Terto, Ubirajara Augusto, Daniel Filho e Ronald Torres


Natan Caetano, presidente do PT (diretório municipal de Petrolândia)