terça-feira, 13 de outubro de 2015

POR ESCOLA, TERRA E DIGNIDADE - RONALD TORRES

Foto: Acervo

O mês de outubro para muitas crianças é um mês muito especial. Não importa em que dia da semana será comemorado o tradicional Dia das Crianças, a data é sempre motivo de muita festa e de diversão. Certo? Mas não é só isso. Para as crianças Sem Terrinha, filhos de acampados e assentados do MST, o Dia das Crianças é muito mais que ganhar presentes. O mês de outubro é, principalmente, referência de luta das crianças, quando fortalecem a identidade da criança Sem Terra e realizam uma grande festa, é o mês do Encontro Estadual dos Sem Terrinhas.
Com o lema “Sem Terrinha: por escola, terra e dignidade”, cerca de 600 crianças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) – cinquenta (50) só de Petrolândia ­–, se reuniram em Caruaru (PE). O XII Encontro Estadual dos Sem Terrinhas aconteceu entre os dias 8 e 10 de Outubro no Centro de Formação Paulo Freire, no assentamento Normandia com muita festa, palhaços, debates sobre reforma agrária, além de oficinas de agroecologia, arte e educação.
Entre plenárias, estudos, atividades lúdicas e desportivas, durante os três dias de encontro as crianças do MST reivindicaram seu direito à educação e escolas nos assentamentos e acampamentos que sejam voltadas para a sua realidade. Porque a “escola no campo é direito e não esmola”, exigem a qualificação e ampliação das escolas do campo no estado e municípios e a construção de escolas de ensino médio nos assentamentos. Além disso, políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis estão também entre as principais reivindicações dos Sem Terrinha.
O encontro além de um momento de muita diversão, festa e confraternização é também um momento de estudo para as crianças Sem Terra. Em tempos em que a ofensiva a educação tem se tornado mais evidente, é extremamente importante manter a mística em torno da Educação do Campo acesa e fazer uma leitura atenta do momento político em que vivem as famílias Sem Terra. Entender o porquê da escola da cidade ter quadro e carteira nova e a do campo não, ou o porquê do transporte escolar no campo geralmente ser de má qualidade, faz com que os Sem Terrinhas reflitam sobre sua condição de sujeito e desde pequenos saibam que é preciso lutar para que as políticas públicas para o campo não continuem relegadas a segundo plano.
Com bandeiras do Brasil, do MST e de Pernambuco e um alto nível de organização, no último dia de encontro (10), os 600 Sem Terrinhas marcharam pelas ruas de Caruaru até o marco zero, denunciando o fechamento de mais de 37 mil escolas do campo nos últimos anos e as péssimas condições das escolas do campo no estado e em muitos municípios de Pernambuco. Com palavras de ordem como “Educação do Campo: direito nosso dever do Estado” distribuíram mudas de árvores durante a marcha a pessoas que acompanhavam o ato. Cerca de quinhentas mudas de árvores nativas foram distribuídas a população durante a marcha no dia 10 de outubro.
As crianças Sem Terra participam das lutas, caminhadas, marchas, ocupações, e apresentam também suas próprias reivindicações, principalmente no campo da educação. Sabendo que os pequenos participam junto com os adultos dos momentos da luta pela terra, desde as mobilizações, ocupações, marchas, acampamentos e sabendo também que para o MST uma escola em um assentamento se constitui como uma grande conquista é nesse contexto que as crianças vão se tornando Sem Terrinha. Vão se tornando Sem Terrinha na escola, mas também na rotina de luta que se constitui para as famílias Sem Terra desde o acampamento. As canções, as histórias, as primeiras leituras de cartilhas específicas, a observação e participação na encenação da mística tudo isso pode contribuir para que as crianças do MST afirmem como identidade social e política, o ser um Sem Terrinha.
Ao final do encontro nos perguntamos: o que temos a aprender com os Sem Terrinhas? E logo nos vem a resposta: ao contrário do sentimento de ódio que tem se tornado comum por parte de uma parcela da sociedade, em que quem usa roupa vermelha “é comunista e merece morrer”, aquelas crianças Sem Terra mostraram que estão do lado da vida, da tolerância, do direito de reivindicarem seus direitos sem agredirem, incitarem o ódio ou maltratarem o outro. Aquelas 600 crianças são a prova viva que é possível fazer luta e pedir mudanças de uma maneira organizada, ativa e sobretudo humana. Provaram que quem mora no campo não é jeca tatu, pé rachado ou burro, quem mora no campo é gente, têm direitos e querem ser tratados como gente! Parabéns aos Sem Terrinhas!

















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