sábado, 28 de novembro de 2015

POR QUE O EMPODERAMENTO DA MULHER ASSUSTA?

Imagem: Bpwbrasil.org

Discursos compartilhados ao longo dos tempos como: “lugar de mulher é na cozinha”, “ela gosta de apanhar”, “mulher e carro, quanto menos rodados, melhor”, “toda mulher que sai com roupa curta está pedindo para ser estuprada” fizeram parte do universo mitológico do macho brasileiro que sempre pensou que eram um Deus e dono da verdade. Não os culpo, até certo ponto, de pensar assim, pois numa sociedade em que o padrão cultural é fundamentado na figura patriarcal, não se admira que essa ideia permaneça no pensamento de homens e, pasmem, de mulheres também. 
Isso significa que a própria sociedade diminuiu a importância da figura feminina e relegou à mulher o lugar de filha obediente, mais tarde a esposa submissa e depois a avó, bisavó com voz branda: não grita, não diz onde dói, recolhe-se no canto, e aceita a ideia de que a felicidade do outro também é a sua. Eu ouvia muito minha mãe dizer assim: “a felicidade do meu marido é minha felicidade. Se meus filhos estão felizes, eu também estou.” Em nenhum momento a felicidade dela foi prioridade e não tenho medo de afirmar, desde que me prove o contrário, que essa felicidade minha mãe nunca encontrou. Ela nunca se permitiu ter o poder de fazer suas escolhas,  independente da felicidade do marido e dos filhos.
Empoderar nada mais é do que permitir que essa mulher saia de uma situação de submissão assuma o rumo de sua vida; é sair da inércia e assumir atitudes positivas diante de realidades adversas, é promover a ruptura cultural da dependência, seja econômica ou emocional. E é essa a questão: uma mulher assim assusta. Assusta o homem que foi educado para ser livre, se permitir a fazer o que quiser, ter emprego, ter família e poder “sustentar” a mulher e os filhos. O cara que não consegue fazer isso, não é homem (conceito cultural). Assusta a própria mulher em alinhar os seus papeis determinados pela sociedade, de ser filha, esposa, mãe.
Empoderar-se é se revestir de direitos, que possa usufruir de forma igual, sem discriminação. O que isso significa? Significa gozar de liberdades, inclusive e tão importante, a liberdade sexual. Escolher seus parceiros e determinar quando e com quem deseja iniciar-se sexualmente, independente do casamento. Assusta e como assusta! Por que é tão difícil aceitar essa mulher sexualmente ativa, solteira, divorciada, viúva, com seus parceiros (sejam eles quantos forem)?
Mas o empoderamento da mulher assusta. E medo seria a palavra mais apropriada para definir a reação de alguns indivíduos diante do poder que a mulher vem conquistando numa luta coletiva por direitos a ela negados histórico e culturalmente. Numa cultura masculinizada, esse processo de empoderar a mulher vem causando um verdadeiro temor numa sociedade resignada aos papeis sociais atribuídos de forma desigual. Medo de perder a autoridade concedida, medo de perder o status de provedor da casa, da ultima palavra. Medo de não ter competência sexual suficiente para dar prazer a essa mulher experiente. Medo de ganhar menos que ela. MEDO! MEDO! MEDO!
Precisamos acabar com esse temor, conviver com essa nova realidade, precisamos de homens que acreditem na luta dessa mulher e compartilhem o orgulho das conquistas de espaços negados a ela. Precisamos de homens que transformem seu medo em respeito. Só assim, o mito da macheza seja substituído por uma história real de equidade e justiça, construindo um mundo melhor.

Jussara Araújo é professora da rede estadual de ensino. Licenciada em História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, leciona história e direitos humanos na escola de Referência em Ensino Médio Maria Cavalcanti Nunes (Petrolândia) e Escola Nossa Senhora Aparecida (Jatobá). 

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