segunda-feira, 12 de junho de 2017

EM PETROLÂNDIA, SERTÃO DE PERNAMBUCO, JUSTIÇA DETERMINA QUE COMUNIDADE INDÍGENA DESOCUPE ÁREA

Imagens: Daniel Filho

“A apropriação privada da terra (...) sempre se antecipa ao seu cultivo útil. Os traços mais retrógados do sistema de posse hoje em vigor não provêm das crises, mas nasceram durante os períodos de maior prosperidade.(...) Lei de terras (...) para negar a propriedade da terra a quem nela trabalhava. (...) lei ‘reforçada e ratificada (...) por uma copiosíssima legislação que estabelecia a compra como única forma de acesso à terra, e criava um sistema cartorial de registro que tornava quase impraticável ao lavrador a legalização de sua possessão’.”

O excerto acima está presente no livro “As veias abertas da América Latina” de Eduardo Galeano escrito em 1970, persiste, tristemente atual. Essa descrição trata de leis brasileiras criadas por militares e políticos das oligarquias na ascensão do café, em 1850, mas pode facilmente descrever a situação de Petrolândia, sertão de Pernambuco nos dias atuais.
Visitamos, acompanhados da equipe de filmagem do projeto sócio-cultural “Histórias em Vídeo” com estúdio R, a comunidade indígena Pankararu Angicos que recebeu a notificação judicial de reintegração de posse de suas terras para o próximo dia 19 de Junho.

“Estamos há cinco anos e dez meses nessas terras. Produzindo, vivendo, mantemos nossas tradições Pankararu (...) temos raízes aqui. Muitas crianças que vieram morar aqui hoje jovens, outras que nasceram aqui... Nós vamos pra onde? Nosso povo não sabe viver na rua, a gente gosta é daqui.”
Dona Graça, moradora e liderança da comunidade

“Essas coisas vêm parece que pra lembrar a gente que nada pra índio é fácil. Tudo a gente tem que lutar... Mas nós vamos continuar lutando e com a força de Deus e a força encantada nós vamos vencer.” 
“Seu Maninho”, pajé


“Esse povo vai pra onde? Dar uma decisão sem vir conhecer nossa realidade (...)a gente clama que o juiz reveja essa decisão que vai prejudicar mais de trinta famílias que vivem e tiram seu sustento dessas terras (...) Nossas crianças gostam de brincar aqui porque têm liberdade... não saberiam viver na rua(...) Estamos correndo contra o tempo pra tentar reverter essa injustiça (...) tenho fé que vamos conseguir...”
Bira, secretário municipal de assuntos indígenas

A falta de transparência nas questões fundiárias do município, o silêncio dos poderes acerca do tema, especulação imobiliária e o desrespeito à função social da terra há anos gera tensões sociais nos mais diversos segmentos e comunidades locais sem vislumbre por dias melhores. Diversas ocupações e comunidades que resistem para garantir sua posse de terra, seja para produzir, por moradia ou ambas.
A especulação acontece ora explícita, incluindo até “promoções de venda” de áreas ocupadas em redes sociais; ora velada, carregando em si várias faces: do empresariado grileiro que acumula imóveis e terras sem dar finalidade social às propriedades, até os que se aproveitam de associações e movimentos sociais para ocupar e acumular benefícios de assentamentos; todas moldadas pela ineficiência das gestões responsáveis.

“Tio, a gente gosta é daqui. De brincar na terra, tomar banho no rio e dançar o toré... A gente não quer ir pra rua.”
Criança Pankararu

Comunidades tradicionais, crianças, trabalhadoras e trabalhadores dos mais diversos assentamentos e acampamentos resistem... Assim como resiste o silêncio dos políticos e a especulação... até quando?

Abaixo, nos links, série de matérias produzidas pelo Blog Gota D’Água  sobre o tema:

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Imagem feita por morador da comunidade

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