quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

TESE DE DOUTORADO COMPROVA O MACHISMO CONTRA DILMA ROUSSEFF

Imagem: Roberto Stuckert Filho



Para além do aprovar ou rejeitar um modelo de gestão, uma figura política, está a motivação e a natureza das críticas. Você critica um modelo de gestão com base em dados, fundamentos ou opta por ataques pejorativos como: puta, louca, anta?
É o que trabalha a tese de doutorado realizada por Perla Haydee da Silva, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Defendida no fim do segundo semestre do ano passado, a tese avaliou as construções discursivas contra a petista durante o impeachment.
Haydee analisou cerca de 3 mil comentários direcionados à presidenta na página do Movimento Brasil Livre (MBL) no Facebook. Quatro termos giravam em torno deles: Louca, burra, prostituta e nojenta. Segundo a especialista, os comentários ofensivos revelam uma sociedade machista, que objetiva excluir as mulheres dos espaços públicos e de poder.
“Esses discursos que associam a mulher a um estereótipo de loucura, burrice ou devassidão moral, se repetem. Não foi uma exclusividade com a ex-presidenta. É histórico esse processo de deslegitimar a opinião de uma mulher e o comportamento feminino”, afirma Haydee. 
“Nessa lógica, a mulher serve apenas para cozinhar, para pilotar fogão. Se repete em muitos comentários: 'Dilma, vai pra casa'. 'Vai lavar roupa'. 'Vai vender Jequiti'. Sempre associando a imagem da mulher a um espaço doméstico. Ela não é capaz de estar em um cargo de poder ou de mando, tem que estar em casa. Ela é para esse espaço e o homem que ocupe o espaço público”, acrescenta.

A pesquisa também mostra como a competência das mulheres é muito mais questionada. Além disso, expõe como os possíveis erros cometidos por Dilma foram e ainda são julgados de forma mais perversa.
O livro Dilmês - O idioma da mulher sapiens, de autoria de Celso Arnaldo Araújo, é citado na tese como exemplo. A obra esmiúça discursos da ex-presidenta de forma pejorativa.
Na opinião de Haydee, no entanto, a crítica é bem mais atenuada em relação aos homens. “O Bolsonaro comete vários deslizes linguísticos e não é tão cobrado, não é associado ao estereótipo da burrice, como era feito e ainda é feito em respeito a Dilma. Esse discurso até hoje se repete. O ‘Dilmês’, a questão das pérolas da Dilma, da ‘Dilmanta’… Ela sendo descreditada, associada ao risível”.
De acordo com a tese, feita à luz das teorias de autores consagrados como Michel Foucault e Judith Butler, as ofensas contra a então presidenta – xingada de “puta” inúmeras vezes – evidenciam a imposição de uma moral sexual.
A tese conclui ainda que a representação degradante da ex-presidenta, seja por comentários ou imagens, coloca em evidência percepções machistas que sustentam um julgamento moral que atinge todas as mulheres.

Fonte: Brasil de Fato

Nenhum comentário:

Postar um comentário