O Brasil, assim como a Alemanha nazista,também teve suas queimas de livros |
“Vários estudos biológicos demonstram
que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático
durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não
reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a
água ferve.
Inchado e feliz (...)
Às vezes, somos sapos fervidos. Não
percebemos as mudanças.”
Paulo
Coelho
O excerto acima (cujo texto integral pode
ser conferido ao final) ilustra o método em que o esfacelamento
da democracia e implantação de uma censura vai se colocando em nossas vidas.
Não surge a maioria das ditaduras num rompante,
com tanques, sangue e gritos, mas, aos poucos, testando a receptividade...
Em nome
da “moral cristã, da família e dos
bons costumes” pregam a vigilância e o cerceamento do livre pensamento e a
liberdade de expressão.
Peça: "La Betê" |
Há poucos anos foram exposições: “Queermuseu” (2017), “La Bête” (2018) que, segundo os vigilantes do
Movimento Brasil Livre (MBL) e o
prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), faziam apologia à pedofilia, zoofilia,
pornografia e ou atacavam a fé cristã. Há poucos meses foram as Histórias em
Quadrinhos, onde o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivela (PRB)
censurou uma revista em quadrinhos dos Vingadores
por conter uma cena de beijo entre dois personagens masculinos. Alguns meses depois o secretário de Cultura do governo federal, Roberto Alvim, fez um pronunciamento cujo
discurso continham frases semelhantes às do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels.
Cena deVingadores - A Cruzada das Crianças |
Há poucas horas (6 de fevereiro de 2020) as Coordenadorias Regionais de Educação de Rondônia receberam uma lista de livros
que deveriam ser recolhidos do acervo das bibliotecas escolares por conterem “conteúdo inadequado”.
Os casos mais recentes, em pouco tempo, obtiveram
ampla rejeição popular e repercussão negativa nos principais portais de
notícias do país, custando o cargo do secretário de cultura e, em Rondônia,
recuos.
Lista dos "livros proibidos" |
O secretário de educação, Suamy Vivecananda, afirmou inicialmente
que a lista vazada se tratava de “fake news”
e que não haveria memorando ou qualquer ordem para recolhimento. No entanto,
reportagens investigativas comprovaram a existência de memorando forçando o
governo, mais uma vez, recuar e desistir de continuar a negar a tentativa
frustrada de censura.
Tanto a demissão como o recuo revela uma práxis
quando algum ato de governo não repercute bem: demissão, recuo e ou negação dos
fatos. A água começando a ferver.
Na lista do governo de Rondônia, clássicos da
literatura nacional e universal: “Macunaíma, o herói sem caráter”,
clássico de Mário de Andrade; todos
os 10 volumes de “Mar de Histórias”, de Aurélio
Buarque de Holanda e Paulo Rónai;
“Bufo
& Spallanzani”, “Diário de Um Fescenino” de Rubens Fonseca; Carlos Heitor Cony com “A Volta por Cima”, “O
ato e fato”, “O Irmão que tu me deste” e o “O
Ventre”; Machado de Assis, “Memórias
Póstumas de Brás Cubas”; Euclides
da Cunha com “Os sertões”; Franz
Kafka com o clássico “O Castelo”, são apenas alguns dos
diversos nomes presentes.
Imagem: reproduçãoProfessor Rubem Alves |
Um detalhe assustador (como se pudesse ter
algo ainda mais) da lista dos livros a serem recolhidos é que no rodapé consta
uma observação a indicar: “Todos os livros do Rubem Alves devem ser
recolhidos”. O psicanalista, educador, teólogo, pastor presbiteriano e,
junto com Paulo Freire, um dos principais pedagogos brasileiros, falecido em
2014, seria o mais novo “energúmeno
comunista que precisa ser retirado de circulação”? Projeto de extermínio do
pensamento da pedagogia popular começando pelos ícones até chegar aos contemporâneos?
Ou mera coincidência?
Tal qual a água presente no excerto que
inicia esse texto, já ferve a sanha ditatorial de vigiar, punir e queimar
livros em praça pública...
Quanto a nós e a democracia? Morreremos
inchados e felizes?
Ou só inchados?
Ou só infelizes?
Artigo de opinião por Daniel Filho, professor da rede
estadual de ensino de Pernambuco em Petrolândia, sertão de Pernambuco
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Secretário
de Cultura copia discurso de ministro nazista:
Livros
clássicos censurados em Rondônia:
Parabéns, Daniel! Devemos sim, manter a chama viva pela extraordinária Cultura pelos livros e, nunca vermos um livro queimando em chamas.
ResponderExcluirContra a queima de livro, um antídoto: clubes de leitura! Juntemo-nos em grupos e vamos ler. Contra o obscurantismo só muita luz. Resistir é preciso!
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