domingo, 3 de maio de 2015

E AGORA, LOURO JOSÉ?


E agora, Louro José?
A orla apagou
O telhado caiu
O povo chorou
E agora, você?
Que destruiu um nome
Que zomba dos outros
E persegue
E agora?
A mortalidade infantil aumentou
A merenda faltou
Estrutura não há mais
Não há transporte
Não há concursos
Não há qualidade de vida
E agora?
Está sem discurso
Está sem carinho
Está sem aliados
A vida esfriou
O riso não veio
O desenvolvimento pior
O descaso imperou
À zona rural não voltou!
E agora, Louro José?
Suas amargas desculpas
O povo já não engole mais
A saúde limitou
O médico saturou
O professor cansou
O aluguel não explicou
A lei de resíduos sólidos não vinga
Nenhum TAC consolida
E agora?
Vai “investir” em pagamentos de multa
Pelos descumprimentos sucessivos?
Entregar aos blogs,
Judiciário
E Legislativo
A competência executiva?
Se você assumisse
Se você amasse
Se você chorasse
Cada lágrima popular
Da criança, jovem e idoso
Mas você não chora.
Você é duro, Louro José!
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Mas as portas se fecharam
Quer banhar no rio
Mas o rio secou
José, e agora?
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato
Sem teogonia
Sem parede ou amigos
Para se encostar
Sem carro de luxo
Que corra a léguas
Das regras
Do Ministério Público
Você marcha, José!
Louro José, para onde?

DANIEL FILHO

Releitura livre do clássico poema do mineiro Carlos Drummond de Andrade.
O texto original pode ser lido no link abaixo:



Um comentário:

  1. Essa releitura do poema de Drummond ficou exatamente como deveria uma cidade que paga de forma dura o que não deveria!

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