Foto: Breno Laprovitera/Site da Alepe |
Repúdio a ALEPE pela alteração do Plano
Estadual de Educação do Estado de Pernambuco que retira quaisquer referências a
gênero e orientação sexual nas escolas. Um retrocesso que segue a linha do
conservadorismo cada vez mais presente no país. O texto a seguir é de Débora
Brito (Centro Sabiá):
A ABONG - Associação Brasileira de
Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns, fóruns e articulações de
defesa de direitos denunciam a irresponsabilidade da Assembleia Legislativa de
Pernambuco em aprovar a emenda nº 04, de autoria do Deputado Estadual Cleiton
Collins, ao PL 269/2015 que alterou o Plano Estadual de Educação de Pernambuco
retirando toda e qualquer referência a uma abordagem estruturada sobre gênero e
orientação sexual. Entidades e movimetos alertam para o retrocesso da
compreensão de tratamento dado às crianças e adolescentes transexuais e
transgêneros em idade escolar que, muitas vezes, já se encontram em situações
de desigualdade.
A mudança no projeto de lei foi confirmada na
quarta-feira (17), apesar de ter sido rejeirada pela Comissão de Constituição e
Justiça da Casa na última terça-feira (16). Mesmo com apenas oito deputados
integrando a bancada evangélica, do toal de 49 deputados da Assembleia
Legislativa de Pernambuco, 31 votaram a favor da emenda. Apesar dez
parlamentares foram contra a proposta.
O projeto do Plano Estadual de Educação
estabelece as diretrizes para nos próximos dez anos e, segundo as organizações
de defesa de direitos, com a aprovaçào da amenda ele ''impactará negativamente
políticas e programas, inclusive os voltados à formação inicial e continuada
dos(as) profissionais da educação", entre outros prejuízos.
Leia
abaixo a nota na íntegra:
NOTA
DE REPÚDIO
As Associações, Fóruns e Articulações
abaixo assinados repudiam veementemente a aprovação da emenda nº 04, de autoria
do Deputado Estadual Cleiton Collins, ao PL 269/2015 que alterou o Plano
Estadual de Educação em sua essência, desconsiderando o acúmulo histórico da
sociedade civil organizada que tem defendido a abordagem integral e, de maneira
orientada, das temáticas de gênero e orientação sexual nas escolas do Estado de
Pernambuco, de modo a garantir a não reprodução de desigualdades estruturantes,
baseadas em discriminação por qualquer razão. Entendemos que a Escola, como
espaço também formador de cidadania deve promover a reflexão e o diálogo sobre
estas questões, contribuindo assim para a construção de uma sociedade
democrática, respeitosa e inclusiva.
Consideramos grave a aprovação, pela
Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, desta emenda que retira toda e
qualquer referência a uma abordagem estruturada sobre gênero e orientação
sexual no Plano Estadual de Educação, uma vez que o Plano apresentado é fruto
de consensos nos espaços institucionais de participação social, como Fóruns e
Conferências de Educação. Sua aprovação impactará negativamente políticas e
programas, inclusive os voltados à formação inicial e continuada dos(as)
profissionais da educação, impedindo a promoção efetiva da saúde e dos direitos
reprodutivos de jovens e adolescentes que são hoje, inclusive, os mais afetados
por Doenças Sexualmente Transmissíveis, como a AIDS, e sofrem as consequências
de gravidez não planejada e indesejada.
A emenda também impedirá a realização
de pesquisas e censos com o intuito de conhecer a situação escolar de travestis
e transgêneros (que hoje representam as pessoas mais marginalizadas no contexto
social), dificultando sobremaneira a construção de estratégias para o reforço
da sua autoestima e desempenho escolar. A emenda ainda impossibilita a
produção, tratamento e disseminação de informações desagregadas e cruzadas
sobre desigualdades educacionais de renda, gênero, raça, etnia etc.,
substituindo o conceito de gênero pela palavra ‘sexo’, como se esta pudesse dar
conta de uma dimensão estruturante de desigualdade.
Por fim, a decisão da ALEPE tolhe a
implementação de políticas contra a evasão escolar motivadas por preconceito e
discriminação decorrentes de orientação sexual ou identidade de gênero e, sem
dúvida, alimentará ainda mais o já existente ciclo de violências, violações e
desigualdades.
Pelo exposto acima, denunciamos o
grave retrocesso que esta emenda representa, ao buscar deslegitimar lutas
históricas de afirmação, defesa, proteção e garantia de direitos de todas as
pessoas e nos posicionamos CONTRA sua aprovação. Afirmamos nosso incansável
compromisso com a garantia plena e efetiva dos Direitos Humanos de todas as
pessoas e exigimos que os seguintes deputados que votaram a favor da emenda
sejam responsabilizados, a partir da efetivação do PL 269/2015, por todo e qualquer
ato de violência, discriminação e preconceito ocorridos nas Escolas de
Pernambuco. Eles estão listados abaixo:
Por partido:
PSB
Adalto Santos
Aglailson Júnior
Aluísio Lessa
Ângelo Ferreira
Diogo Moraes
Lula Cabral
Miguel Coelho
Vinícius Labanca
PTB
Álvaro Porto
Julio Cavalcanti
Romário Dias
Sílvio Costa Filho
PMDB
André Ferreira
Ricardo Costa
PSDB
Antônio Moraes
PRB
Bispo Osséssio Silva
PDT
Botafogo
Pedro
Serafim Neto
PP
Dr. Valdir
Everaldo Cabral
Pastor Cleiton Collins
Zé Maurício
PTC
Eriberto Medeiros
PR
Henrique Queiroz
PRP
João Eudes
PSD
Joaquim Lira
Rodrigo Novaes
PROS
Joel da Harpa
PT
Odacy Amorim
SD
Professor Lupércio
Assinam esta nota
ABONG–
Associação Brasileira de Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns
ANCED – Associação
Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente
ABGLT - Associação
Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
MNDH - Movimento
Nacional de Diretos Humanos - Pernambuco
Articulação AIDS em Pernambuco
FOPECOM - Fórum
de Comunicação de Pernambuco
Fórum LGBT Pernambuco
FMPE - Fórum
de Mulheres de Pernambuco
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e
AIDS/PE
Recife,
19 de Junho de 2015
Mônica
Vilaça - CFES/NE
Link: http://centrosabia.org.br/
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