O BLOG GOTA D'ÁGUA dá início à campanha #AgoraÉqueSãoElas. Homens que possuem espaço na mídia foram instigados a ficarem como
espectadores. Ao invés de escreverem e publicarem textos sobre os direitos das
mulheres e questões de gênero promoverão uma ocupação de seu espaço para que
elas falem por si. Nossa primeira convidada é uma jovem estudante de Engenharia
da Produção: Corina Germino. Boa leitura e uma excelente reflexão sobre questões de
gênero.
As mídias sociais
deram vozes as pessoas que antes não poderiam ser ouvidas, e isso é bom, por
exemplo, no caso das manifestações de 2013, essas mídias foram as principais
ferramentas de propagação, todos nos lembramos. Mas quem diria, que em 2015 o
"jogo viraria", eu nunca havia visto tanta desinformação e tanta
propagação do inútil, inconcebível e assustador. Vimos o caso da menina
Valentina, participante do Masterchef, as brincadeiras a respeito das meninas
que contaram os assédios que sofreram, e inúmeros outros casos todos os dias. A
voz dada às pessoas, libertou também, o que havia demais assustador nelas: o
preconceito, racismo, homofobia e os textos ou frases onde mulheres são
subjugadas e desrespeitadas.
Aí eu paro, e penso: eu não nasci
para ser diminuída, muito menos por ser mulher. Não é um defeito, não sou menos
capaz que um homem, de jeito nenhum. Ainda não achei qual a lógica disso tudo,
mas acho que já está mais do que provado que nós mulheres somos tão capazes
quanto.
Porém, como uma boa chata que sou, gosto
de ir às raízes do problema. Quando iniciamos nosso processo de socialização,
lá na infância, aprendemos que determinadas cores são de "meninos",
por exemplo o azul, e que rosa é cor de "menina". Nós crescemos com a
ideia de que somos "princesas" e que encontraremos nosso
"príncipe encantado", nos casaremos e teremos filhos. Os meninos
crescem ouvindo que "chorar é coisa de mulherzinha", que eles têm de
"pegar" muita mulher, para provar que são "machos". As
famílias incutem nas meninas a ideia de que a virgindade é a sua maior virtude,
enquanto elas são criadas para "guardarem", os rapazes são induzidos
a perdê-las. Porque é lindo dizer a seus amigos que seu filho é um
"pegador", mas seria vergonhoso ter uma filha assim. E sabe por quê?
Porque se uma mulher fizer isso, ela é logo chamada de puta. Ela não se
"deu o respeito". Mas então, o que é se dar o respeito? Se dar o
respeito é igual para homens e mulheres? Homens não precisam disso? Gostaria
muito que alguém me respondesse, mas que não viesse com o de sempre. Essas
expectativas de gêneros que há gerações são impostas pelas famílias, algumas
religiões e qualquer outro grupo que pertençamos ao longo do nosso processo de
crescimento, ditará de alguma forma o tipo de adulto que seremos, as ideias que
vamos propagar e qual a imagem que queremos nós.
Eu decidi que não preciso
de um casamento para me sentir realizada, que ao invés disso, escolho meu tão
sonhado diploma, que não precisarei de um marido para me sustentar pois tenho
plenas condições de me sustentar com o suor do meu trabalho. E não, meu lugar
não é no fogão. Meu lugar é onde eu quiser estar. É essa a imagem que eu quero
de mim, e que espero que todas as mulheres tenham, que todas nós possamos
escolher o que vestir sem ser abordada por alguém na rua, que tenhamos plenos
poderes sobre o que fazer com o nosso corpo, que isso nos seja dado, quero para
todas salários iguais aos dos homens que exercem a mesma função, que não
sejamos “culpadas” quando na verdade somos vítimas, desejo que não nos vejamos
competidoras da atenção de um homem. Mas quero também, que os rapazes sejam
soltos dessa “prisão” chamada masculinidade, para que não nos prendam na do
“machismo”. Que ensinemos nossos filhos, irmãos, sobrinhos a tratarem as
mulheres com respeito, e não como um pedaço de carne a ser “comido”.
Não me recordo a primeira vez em que ouvi o
termo "feminista", e nem sei se quando o ouvi fui atrás de seu
significado, mas sempre quando eu ouvia alguém falar esse termo, vinha junto
dele uma cara de desaprovação, até por parte de outras mulheres. Nunca li
até hoje livros de escritoras feministas, na verdade, só vim conhecer uma delas
no terceiro ano do ensino médio, através de uma professora por quem até hoje
nutro muita admiração, respeito e carinho, Suemys Pansani. Ela me ensinou que
ser feminista não é ser radical, odiar os homens, ou qualquer outro clichê que
pensem, e que eu não precisaria ler todos os livros de Simone de Beauvoir para ser
uma, eu só teria de ter consciência de que ser mulher não é ser submissa, ela
me ensinou a enxergar o mundo ao meu redor e ver como ainda há desigualdade de
gênero. E a ela eu agradeço imensamente, torço para que todas tenham as suas
“Suemys”. “Su”, eu peço: não desista, a luta é difícil e cansativa, mas
precisamos de você!
Corina Germino, 21 anos, é natural de
Tacaratu (PE). Cursa Engenharia de Produção na Universidade Tiradentes em
Aracaju (SE), cidade em que mora atualmente.
“Desde
muito cedo questionei aquilo que de certa forma eu desconhecia, então eu sempre
busquei me informar a respeito de certos assuntos, e com isso acabei adquirindo
uma certa paixão pela leitura. Passei parte da minha infância e adolescência
residindo em cidades diferentes, onde conheci várias pessoas e fiz algumas
amizades, que, de certa forma, contribuíram bastante para o que eu me tornei
hoje, desde o que seria correto fazer, observando ações que, ao meu ver, eram dignas
de respeito, até o que eu jamais faria ou desejaria a qualquer pessoa.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário