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Discursos compartilhados ao longo dos tempos como:
“lugar de mulher é na cozinha”, “ela gosta de apanhar”, “mulher e carro, quanto
menos rodados, melhor”, “toda mulher que sai com roupa curta está pedindo para
ser estuprada” fizeram parte do universo mitológico do macho brasileiro que
sempre pensou que eram um Deus e dono da verdade. Não os culpo, até certo
ponto, de pensar assim, pois numa sociedade em que o padrão cultural é
fundamentado na figura patriarcal, não se admira que essa ideia permaneça no
pensamento de homens e, pasmem, de mulheres também.
Isso significa que a própria sociedade
diminuiu a importância da figura feminina e relegou à mulher o lugar de filha
obediente, mais tarde a esposa submissa e depois a avó, bisavó com voz branda:
não grita, não diz onde dói, recolhe-se no canto, e aceita a ideia de que a
felicidade do outro também é a sua. Eu ouvia muito minha mãe dizer assim: “a
felicidade do meu marido é minha felicidade. Se meus filhos estão felizes, eu
também estou.” Em nenhum momento a felicidade dela foi prioridade e não tenho
medo de afirmar, desde que me prove o contrário, que essa felicidade minha mãe
nunca encontrou. Ela nunca se permitiu ter o poder de fazer suas escolhas, independente da felicidade do marido e dos
filhos.
Empoderar nada mais é do que permitir que
essa mulher saia de uma situação de submissão assuma o rumo de sua vida; é sair
da inércia e assumir atitudes positivas diante de realidades adversas, é
promover a ruptura cultural da dependência, seja econômica ou emocional. E é
essa a questão: uma mulher assim assusta. Assusta o homem que foi educado para
ser livre, se permitir a fazer o que quiser, ter emprego, ter família e poder
“sustentar” a mulher e os filhos. O cara que não consegue fazer isso, não é
homem (conceito cultural). Assusta a própria mulher em alinhar os seus papeis
determinados pela sociedade, de ser filha, esposa, mãe.
Empoderar-se é se revestir de direitos, que
possa usufruir de forma igual, sem discriminação. O que isso significa?
Significa gozar de liberdades, inclusive e tão importante, a liberdade sexual.
Escolher seus parceiros e determinar quando e com quem deseja iniciar-se
sexualmente, independente do casamento. Assusta e como assusta! Por que é tão
difícil aceitar essa mulher sexualmente ativa, solteira, divorciada, viúva, com
seus parceiros (sejam eles quantos forem)?
Mas o empoderamento da mulher assusta. E medo
seria a palavra mais apropriada para definir a reação de alguns indivíduos
diante do poder que a mulher vem conquistando numa luta coletiva por direitos a
ela negados histórico e culturalmente. Numa cultura masculinizada, esse
processo de empoderar a mulher vem causando um verdadeiro temor numa sociedade
resignada aos papeis sociais atribuídos de forma desigual. Medo de perder a
autoridade concedida, medo de perder o status de provedor da casa, da ultima
palavra. Medo de não ter competência sexual suficiente para dar prazer a essa
mulher experiente. Medo de ganhar menos que ela. MEDO! MEDO! MEDO!
Precisamos acabar com esse temor, conviver
com essa nova realidade, precisamos de homens que acreditem na luta dessa mulher
e compartilhem o orgulho das conquistas de espaços negados a ela. Precisamos de
homens que transformem seu medo em respeito. Só assim, o mito da macheza seja
substituído por uma história real de equidade e justiça, construindo um mundo
melhor.
Jussara Araújo é professora da rede estadual de ensino. Licenciada em História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, leciona história e direitos humanos na escola de Referência em Ensino Médio Maria Cavalcanti Nunes (Petrolândia) e Escola Nossa Senhora Aparecida (Jatobá).
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