Foto: Daniel Filho |
Bem próximo de completar uma década de
efetivo exercício à educação pública estadual de Pernambuco, no município de
Petrolândia, vi absurdos, mas também grandes avanços.
No Dia do Índio pintar os rostos das crianças
e adolescentes adornando com algumas poucas penas para traçar coreografias
semelhantes aos da Xuxa; Dia da Consciência Negra pedir a um grupo de
capoeira para se apresentar, montar murais com “negros que venceram na vida”
(implícita ou explicitamente a reforçar conceitos de meritocracia que,
obviamente, condenam políticas de afirmação como as cotas), ou mesmo “desfiles
de beleza negra”; Dia Internacional da Mulher distribuir bombons e dedicar mimos a amortecer duras realidades. Eis apenas alguns exemplos de como tratar com a profundidade
de um pires, temas complexos. Vi ser jogados às gavetas, junto com todo o Projeto Político Pedagógico da
escola, um dos eixos norteadores de todo e qualquer PPP: formação da cidadania
crítica e reflexiva dos estudantes.
Mas há sempre inquietos a provocar o mundo.
Em Petrolândia três professoras, de diferentes escolas, reúnem forças no
empoderamento político de temas como afirmação e gênero.
Os grupos, nascidos de projetos de
intervenção pedagógica no chão da escola, Crespas
e Cacheadas, Reinventando Frida
Kahlo e Dandaras, respectivamente
elaborados e coordenados pelas professoras Tailane Lisboa (Escola
Icó-Mandantes), Suemys Pansani (Escola Jatobá) e Jussara Araújo (Maria
Cavalcanti Nunes) vêm com ares de insurreição ao conservadorismo bolorento
instalado nos parlamentos do país e à passividade de um modelo educacional caduco.
Os três projetos unidos trazem uma essência
de empoderamento político e afirmação (feminista, negra, cidadã) a todos os
estudantes envolvidos como nunca percebido por mim nesses anos de docência. Ouso
apontar a I MARCHA PELO FIM DA VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER, acontecida no dia 24 de Novembro, sob organização das
turmas do ProEmi envolvidos com o projeto Reinventando Frida Kahlo, como
momento histórico de afiliação entre os três projetos.
A marcha, que percorreu as principais ruas e
avenidas da cidade com adesão da maioria das escolas públicas, encerrou o ato na
praça de alimentação abrindo o microfone para relatos e depoimentos fortes,
emocionantes e emocionados de mulheres vítimas da violência que sentiram, na
honestidade do ato, espaço de acolhimento para suas falas e dores.
Encerro minha escrita com a esperança de que a
nova escola que precisa ser conclamada pela juventude dá seus primeiros passos
e com o texto a ilustrar o que foi a Marcha:
“Hoje
marchamos ... mas, realmente por quê marchamos?
Marchamos,
para mostrar que tem sentindo discutir gênero no chão da escola, não sendo
apenas um debate banal e desnecessário;
Marchamos,
porque descobrimos que temos companheir@s de luta e escola (obrigada irmãs e
irmãos da Escola Icó Mandantes, Erem- Maria Cavalcante Nunes, São Francisco,
Francisco Simões,7 de setembro e 6 de março);
Marchamos,
pois partilhamos da mesma luta com a galera do Cacheados e Crespos, da Casa das
Juventudes e Conselho e Coordenadoria da Mulher;
Marchamos,
porque não achamos graça das tantas “Jéssicas” por aí que deixam se levar pela
rivalidade feminina;
Marchamos,
porque respeitamos todas as formas e maneiras de amor;
Marchamos,
pela igualdade de gênero;
Marchamos,
pela visibilidade das “trans” e das travestis, que são lamentavelmente lançadas
à margem da nossa hipócrita sociedade;
Marchamos,
por solidariedade as irmãs, que não tiveram chance de participar do nosso
movimento, pois suas vidas foram interrompidas, antes que pudessem denunciar;
Marchamos,
pelas meninas vítimas de abusos, que ao som de uma toada feminista consegue
reverter a dor em luta;
Marchamos,
porque temos que marchar diariamente ... para que um dia não precisemos ouvir,
com os olhos cheios de lágrimas relatos de mais uma vítima, que por uma mudança
no cabelo, vê sua vida ameaçada.
Marchamos,
porque continuaremos marchando enquanto houver uma irmã necessitada;
Marchamos,
porque acreditamos na nossa luta;
Marchamos,
pois buscamos dias melhores;
Marchamos,
porque hoje, exatamente hoje, pudemos entender claramente a frase: mesmo soFRIDA jamais me KAHLO.... por nossas irmãs jamais vamos nos silenciar...”
Texto
retirado da página Reinventando Frida Kahlo:
Acervo da Escola |
Acervo da Escola |
Nenhum comentário:
Postar um comentário