segunda-feira, 4 de abril de 2016

DEPOIS DA ESCRAVIDÃO parte 1

Imagem: Divulgação

A reportagem a seguir foi concebida pelo jornalista Igor Ojeda para a REPÓRTER BRASIL e republicada no Blog do Sakamoto e agora por nós, do Blog Gota d’Água em três partes. Trata da história de três JOSÉs que foram resgatados de condições análogas às de escravo, pelo governo brasileiro, nas obras de ampliação do aeroporto internacional de São Paulo, em 2013, sob responsabilidade da empreiteira OAS. Dois deles são de nossa cidade, Petrolândia. Vamos conhecer suas histórias e a vida após o resgate.

José Alex é pernambucano de Águas Belas, mas há duas décadas vive em Petrolândia, a menos de 200 quilômetros dali.

José Evanci é sergipano de Poço Redondo, e também mora em Petrolândia, para onde se mudou aos dois anos.

José Hildo é baiano de Glória. Nascido e criado na zona rural do município, onde vive até hoje.

Petrolândia e Glória, ambas localizadas à beira do rio São Francisco, estão separadas por apenas 60 quilômetros. A primeira em Pernambuco, a segunda na Bahia. Os destinos dos três jovens de nome José, no entanto, cruzaram-se a mais de dois mil quilômetros ao sul: Guarulhos, na Grande São Paulo.
Entre agosto e setembro de 2013, eles e mais 108 trabalhadores foram submetidos a condições análogas à escravidão nos alojamentos da OAS, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social, empreiteira que era a responsável pela ampliação do aeroporto internacional de Guarulhos, em Cumbica, obra inserida na lista de melhorias na infraestrutura do país previstas para a Copa do Mundo que seria realizada no ano seguinte.

Obra do terminal de Guarulhos, feita pela OAS. Foto: Divulgação


DE ELETRICISTA A PEDREIRO

José Alex, o mais jovem, tem 22 anos. Tinha 19 quando, com mais uns 40 homens, tomou o ônibus caindo aos pedaços para o Estado de São Paulo. Nascido em Águas Belas, antes de completar dois anos foi com a mãe e os dois irmãos para Petrolândia após seu pai ser assassinado. “Mainha começou a namorar com meu padrasto, que era padeiro, e tocamos a vida por aqui. Depois de um tempo, ela virou costureira.”
Com 14 anos, o irmão do padrasto de José Alex, eletricista, chamou-o para trabalhar. Quatro anos depois, surgiu uma oportunidade de emprego de servente de pedreiro nas obras de ampliação de uma fábrica da Gerdau em Ouro Branco, em Minas Gerais. “Tem vantagem quando a pessoa trabalha em firma. Quando você sai, recebe acerto. Quando você trabalha com comércio, não tem essa vantagem.”
Um mês depois, no entanto, José Alex pegou gripe forte e, como não melhorava, teve de voltar para casa. Em Petrolândia, o jovem sarou. Menos de três meses depois, ouviu de um amigo na rua: “Tem uma viagem aí pra Guarulhos, quer ir?”

continua

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