sexta-feira, 13 de maio de 2016

MERCADO PÚBLICO (?)

Imagens: Daniel Filho/Miguel


“Falam em crise, mas pra mim a crise começou quando inauguraram esse mercado. Antes, com minha barraquinha simples, eu ganhava meu dinheirinho, agora... O prefeito tirou o pão da minha boca e de meus filhos.”

Fomos convidados a ouvir o anseio de comerciantes do Centro Comercial Abel de Souza, o mercado público. Pudemos averiguar e registrar diversos problemas: banheiros sujos e quebrados, inacessibilidade, taxas e impostos altos... A temática exigirá bem mais que uma reportagem. Nessa daremos destaque à angústia dos comerciantes de moda e tecelaria.
Uma das queixas é sobre os altos valores cobrados pela prefeitura mensalmente. Água, luz, taxa mensal e uma anual para manterem o ponto comercial:

Dona Maria. Optou por cortar a energia,
pois não tem como pagar

“Paguei o aluguel do espaço esse mês com dinheiro da minha aposentadoria, pois chego a passar semanas sem apurar um real sequer. Também pedi para o menino da prefeitura vir aqui cortar a luz, assim diminuí um pouco mais o meu gasto. Tá difícil manter aqui, meu filho... É agonia. Você pode ver aí. Não é só aqui, em nenhuma barraca você vê movimento.” Declarou Dona Maria Gomes dos Santos.

Os valores das taxas cobradas variam, por espaço, entre R$40 a R$83 reais.

Carnê de cobrança... No entanto 

a cobrança dos usuários...
“Eu pagava de um a dois reais para manter minha barraquinha na feira e apurava. Com a chegada desse mercado mudou tudo. A gente chega a pagar R$83 reais por mês, além de energia, água e uma taxa anual. Eu não me queixaria de pagar se eu vendesse, mas aqui chego a passar 15 dias sem apurar nenhum real. Muitos amigos chegaram a fechar as portas porque não aguentaram. Esse ano não paguei nenhuma mensalidade do carnê, pois não tive condição... O rapaz da prefeitura disse que se eu não pagasse ia me por no SPC, mas o que posso fazer? Eu não vou fazer um empréstimo pra pagar algo que não me dá futuro.” Disse outra comerciante que chamaremos pela inicial L, pois preferiu não se identificar por medo de represálias. Continuou:
“Tanto espaço que tem lá embaixo, tanto que já pedimos pra deixarem a gente descer nossas barracas... nem que seja por um dia, no dia da feira, pra voltar a ter ao menos um dia de feira livre. Mas não deixam. Nos mudaram pra cá feito porcos, sem nos ouvir, sem pensar em nosso sofrimento. Eu estou para abandonar tudo isso aqui, mas na prefeitura disseram que pra me desfazer do negócio eu tenho que quitar o aluguel do espaço e eu não tenho condições. Pense numa tristeza.”

Unanimemente se queixaram da transposição, sem consulta dos comerciantes, de seus espaços de venda para o piso superior. A inacessibilidade, uma longa escadaria que divide espaço com caixas e uma rampa muito íngreme sem corrimão, dificulta a ida de idosos e cadeirantes:

Disputa por lugar

Essa semana tive que ir à casa de uma cliente para receber meu dinheiro. Minha cliente é muito idosa e não pode, não aguenta subir até aqui. Meus principais clientes são idosos e o acesso aqui pra eles é muito difícil.”
Declarou um vendedor que chamaremos P., pois também optou por não ser identificado. Tal dificuldade afeta a todos os clientes. Completa ele:
“Ninguém sobe aqui. Se tivesse algum serviço social, banco, ou coisa do tipo, onde as pessoas precisassem vir até aqui, elas poderiam ver nossos produtos, se interessar e comprar. É assim que funciona o comércio de roupa em feira. O cliente vem pagar uma conta, comprar verdura e acaba gostando do produto e leva. Mas do jeito que fizeram aqui... Você vê, um dia de feira e um vazio desses...”
As imagens foram feitas hoje (13) sexta-feira, pela manhã. Tradicionalmente o dia de maior movimento para feirantes e comerciantes... Deveria ser. Como é possível observar, corredores e bancas vazios ou mesmo fechados, pois há muitos comerciantes que desistiram de seus pontos:





Espaço vazio por desistência


 Na entrada o comerciante Adelmo nos relatou quais foram suas dificuldades para manter seu ponto, o bar:
“Aqui quando bate o sol, quem vai ficar? Ninguém aguenta. Aí prometeram que iam colocar uma cobertura... até hoje. Isso que me irrita, pra que prometer e não cumprir? Então tirei do meu bolso e botei esse toldo aqui. Mas você acredita que veio gente da prefeitura reclamar? Disseram que descaracteriza o mercado. Bati o pé e ficou assim. Essa gente não pensa em ninguém...”
Adelmo citou ainda os banheiros do espaço. Em condições precárias de higiene e estrutura. Assunto para nossa próxima matéria.
Encerramos com uma fala que carrega forte simbologia para a crise política que vivemos:

“O prefeito faz isso porque nunca pisou os pés aqui, não sabe da nossa realidade. Mas esse é ano de eleição e a gente tá doido que ele venha aqui apresentar o candidato dele pra gente descer com os dois correndo daqui. Outro já veio também me pedir voto, mas disse logo que tô desgostosa de política. Não acredito mais em nenhum deles. Nenhum deles fez nada por ninguém da gente, mas da gente querem o voto!”

Salas de "administração" vazias





Espaços que os comerciantes
gostariam de dividir espaço

 


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