Imagens: Daniel Filho |
O termo “indústria da seca” foi utilizado
pela primeira vez na década de 60 por Antônio Callado para designar políticos
que se beneficiavam com tal tragédia.
A seca é um fenômeno natural periódico que
não deveria, necessariamente, ser sinônimo de intenso sofrimento. Com políticas
públicas corretas o convívio pode ser contornado. No entanto podemos encontrar
a problemática afligir centenas de famílias, tanto da área urbana quanto rural,
que, diferente de tantas outras localidades sertanejas, está tão próxima do Rio
São Francisco.
LOGRADOURO
POVOADO JUAZEIRO
A convite visitamos o povoado Juazeiro
localizado no logradouro. Pudemos observar como o descaso político acerca do
tema afetou tanto a potencialidade econômica local quanto o estilo de vida.
Há três anos o poço artesiano que atendia a
comunidade está quebrado. Criações e plantações foram desfeitas e o consumo
humano só é garantido através de carros pipas que demoram a ir e, quando vão,
cobram um valor muito alto para a realidade local:
“A gente vive nesse aperreio. O
cata-vento que puxava a água caiu tem três anos e o povo da prefeitura disse
que vinha, mas, até hoje... Água aqui só com o pipa mesmo e é muito caro.”
“Criava
uns bodes, tinha umas plantações. Mas tive que me desfazer de tudo. Porque
senão não dava conta de ter água pros bichos, as plantas e pra gente beber,
lavar a casa...”
Foram alguns dos depoimentos colhidos. Os
moradores falaram ainda dos diversos candidatos que passaram por lá, tiveram
conhecimento da necessidade, prometeram melhorias em campanha, mas se omitiram:
“Teve
um que se elegeu vereador com apoio da gente. Eu mesmo trabalhei pra ele e
consegui duzentos votos. Sabe quando ele voltou aqui? Nunca mais. A única coisa
que nosso povo tinha pedido, e ele garantiu que dava, foi uma caixa d’água dessas
de fibra... Recentemente encontrei ele quando fui pra feira. Ele disse que logo,
logo vinha aqui de novo conversar com a gente. Quando ele vier o cadeado vai tá
na cancela.”
É muito comum ouvir relatos sobre diversos
pré-candidatos que fazem campanha antecipada distribuindo água em troca de
votos, assim como prometendo caixas, perfuração de poços e kit’s de irrigação.
Comunidades inteiras são drasticamente afetadas por uma situação proposital.
Evitar ao máximo a emancipação econômica da comunidade é garantia de manutenção
de um sistema eleitoreiro vicioso.
“Rapaz,
aqui não interessa pra eles mandar consertar poço. Nem mandar furar outro, nem
botar encanação. O que dá dinheiro e voto pra esse povo é o carro pipa. Tu acha
que eles querem o nosso bem? Não querem. Que é pra gente viver assim,
dependendo de favor deles!”
BAIRRO
NOVA ESPERANÇA
Caso antigo na cidade, o bairro sempre sofreu
o descaso do governo municipal com relação ao abastecimento de água. Em nossas
últimas visitas pouca coisa havia mudado.
A água que é distribuída pelo município
através do caminhão pipa não é suficiente e diverge quanto ao modo de
distribuição. Alguns moradores afirmam que ficam sem abastecimento por até
quinze dias e, quando vão, enchem os reservatórios em três minutos. Outros
afirmam que a visita é constante e que seus reservatórios são cheios
periodicamente. Outros ainda dizem só ter acesso quando pagam.
As diferentes visões e realidades mostram uma
só verdade: à beira do Rio São Francisco, Lago de Itaparica, pessoas passam
sede, perdem ou são forçadas a desistirem de suas criações e plantações e,
entregues à própria sorte, ficam a mercê da “boa vontade” dos que “não gostam de gente, apenas gostam de
votos!”
ENCAMINHAMENTOS
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), ao saber de nossa reportagem,
encaminhou ofício à prefeitura pedindo pelo conserto e manutenção do poço
artesiano do povoado Juazeiro no Logradouro.
Os moradores, sabendo da entrega do ofício,
não se animaram: “Passaram
três anos pra vir aqui e nunca vieram. Se vierem agora é só por causa da política
e vai ser só enganação de novo”.
No Bairro Nova Esperança a promessa é de ver
o início das obras de ampliação do abastecimento de água no início de Setembro
com previsão de conclusão em doze meses. Obra essa que sempre é lembrada... Mas
apenas de quatro em quatro anos.
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