quarta-feira, 27 de julho de 2016

INDÚSTRIA (ELEITORAL) DA SECA ÀS MARGENS DO RIO SÃO FRANCISCO

Imagens: Daniel Filho


O termo “indústria da seca” foi utilizado pela primeira vez na década de 60 por Antônio Callado para designar políticos que se beneficiavam com tal tragédia.
A seca é um fenômeno natural periódico que não deveria, necessariamente, ser sinônimo de intenso sofrimento. Com políticas públicas corretas o convívio pode ser contornado. No entanto podemos encontrar a problemática afligir centenas de famílias, tanto da área urbana quanto rural, que, diferente de tantas outras localidades sertanejas, está tão próxima do Rio São Francisco.

LOGRADOURO POVOADO JUAZEIRO

A convite visitamos o povoado Juazeiro localizado no logradouro. Pudemos observar como o descaso político acerca do tema afetou tanto a potencialidade econômica local quanto o estilo de vida.
Há três anos o poço artesiano que atendia a comunidade está quebrado. Criações e plantações foram desfeitas e o consumo humano só é garantido através de carros pipas que demoram a ir e, quando vão, cobram um valor muito alto para a realidade local:

 “A gente vive nesse aperreio. O cata-vento que puxava a água caiu tem três anos e o povo da prefeitura disse que vinha, mas, até hoje... Água aqui só com o pipa mesmo e é muito caro.”

“Criava uns bodes, tinha umas plantações. Mas tive que me desfazer de tudo. Porque senão não dava conta de ter água pros bichos, as plantas e pra gente beber, lavar a casa...”

Foram alguns dos depoimentos colhidos. Os moradores falaram ainda dos diversos candidatos que passaram por lá, tiveram conhecimento da necessidade, prometeram melhorias em campanha, mas se omitiram:

“Teve um que se elegeu vereador com apoio da gente. Eu mesmo trabalhei pra ele e consegui duzentos votos. Sabe quando ele voltou aqui? Nunca mais. A única coisa que nosso povo tinha pedido, e ele garantiu que dava, foi uma caixa d’água dessas de fibra... Recentemente encontrei ele quando fui pra feira. Ele disse que logo, logo vinha aqui de novo conversar com a gente. Quando ele vier o cadeado vai tá na cancela.”

É muito comum ouvir relatos sobre diversos pré-candidatos que fazem campanha antecipada distribuindo água em troca de votos, assim como prometendo caixas, perfuração de poços e kit’s de irrigação. Comunidades inteiras são drasticamente afetadas por uma situação proposital. Evitar ao máximo a emancipação econômica da comunidade é garantia de manutenção de um sistema eleitoreiro vicioso.

“Rapaz, aqui não interessa pra eles mandar consertar poço. Nem mandar furar outro, nem botar encanação. O que dá dinheiro e voto pra esse povo é o carro pipa. Tu acha que eles querem o nosso bem? Não querem. Que é pra gente viver assim, dependendo de favor deles!”

BAIRRO NOVA ESPERANÇA

Caso antigo na cidade, o bairro sempre sofreu o descaso do governo municipal com relação ao abastecimento de água. Em nossas últimas visitas pouca coisa havia mudado.
A água que é distribuída pelo município através do caminhão pipa não é suficiente e diverge quanto ao modo de distribuição. Alguns moradores afirmam que ficam sem abastecimento por até quinze dias e, quando vão, enchem os reservatórios em três minutos. Outros afirmam que a visita é constante e que seus reservatórios são cheios periodicamente. Outros ainda dizem só ter acesso quando pagam.
As diferentes visões e realidades mostram uma só verdade: à beira do Rio São Francisco, Lago de Itaparica, pessoas passam sede, perdem ou são forçadas a desistirem de suas criações e plantações e, entregues à própria sorte, ficam a mercê da “boa vontade” dos que “não gostam de gente, apenas gostam de votos!”

ENCAMINHAMENTOS

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), ao saber de nossa reportagem, encaminhou ofício à prefeitura pedindo pelo conserto e manutenção do poço artesiano do povoado Juazeiro no Logradouro.
Os moradores, sabendo da entrega do ofício, não se animaram: “Passaram três anos pra vir aqui e nunca vieram. Se vierem agora é só por causa da política e vai ser só enganação de novo”.
No Bairro Nova Esperança a promessa é de ver o início das obras de ampliação do abastecimento de água no início de Setembro com previsão de conclusão em doze meses. Obra essa que sempre é lembrada... Mas apenas de quatro em quatro anos.

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