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Imagens enviadas por Cláudia Leal
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A diocese
de Floresta – PE, juntamente com o Setor Sócio Transformador da CNBB Ne², com o apoio da Caritas Regional Ne² e da Miserior, realizaram um grande evento
na cidade de Floresta – PE nos dias 5 e
6 de novembro sobre a possibilidade de instalação de uma Usina Nuclear no município de Itacuruba – PE. Estiveram presentes
muitas organizações sociais e bispos de diversas dioceses. O evento contou com
a presença dos expositores: Professora Vânia
Fialho, Professor Whodson,
Professora Clarissa Marques, João Gadner, Dr. Neidson e Heitor Scalabrine.
Foram momentos de muita escuta às populações e visita ao local da possível
instalação, houve um rico debate sobre o assunto.
Os bispos procuraram
acompanhar com muita atenção nas escutas do relato do povo. Também, estiveram
presentes os representantes do
SINDURB
e da
FRUNE, nas pessoas de
Fernando Neves e
Mozart Bandeira que falaram sobre a luta contra a Privatização da
CHESF.
O objetivo desse encontro foi dar voz aos
seguimentos sociais e conhecer os argumentos contrários e favoráveis à
instalação da usina no território de Itaparica. Visitaram Itacuruba – PE,
escutaram agricultores, pescadores, indígenas, quilombolas e outros seguimentos
da sociedade.
Um momento marcante foi na frente da igreja da
cidade de Itacuruba – PE, onde crianças, vindas de Belém do São Francisco,
fizeram uma apresentação acerca da situação das obras já realizadas com grandes
impactos sociais.
Na parte da tarde o encontro ocorreu no
município de Floresta - PE, coordenado por Cláudia
Leal - Coordenadora da Associação PROVIDA e membro da Comissão de
Articulação Antinuclear do Sertão – que seguiu com as palestras dos expositores
já citados acima. O evento contou com a presença do prefeito da cidade de
Itacuruba - PE que disse não ser a favor e nem contra, revelou não ter
conhecimento dos reais riscos de uma usina e está aberto a escutar e conhecer
os dois lados.
A noite houve orientações diversas e um conhecimento
melhor acerca do desastre de brumadinho.
No dia seguinte (6) após a missa, o evento seguiu coordenado pelo Diácono Jaime da diocese de Recife e Olinda,
seguiu com a professora Vânia Fialho e o Professor Whodson, que fizeram uma
explanação sobre os riscos da usina nuclear e fizeram a entrega do livro da
Nova Cartografia Social, um boletim informativo sobre a história de Itacuruba,
povos tradicionais, suas lutas e resistência, encerrou com apresentação de toré com os povos indígenas Tuxá campos da cidade de Itacuruba.
No final ficou decidido de publicar uma carta
assim chamada “Carta de Floresta” para ser entregue em todo Brasil,
reforçando que a igreja está atenta e que sua maior preocupação é pela vida.
Todo evento teve a colaboração da equipe da
Associação PROVIDA - Padre Luciano Aguiar, Ângelo Zanré e Alba Leal.
A seguir reprodução da carta na íntegra:
“ Carta de Floresta
Floresta, 06 de novembro de 2019
A todas as pessoas de boa vontade,
Às lideranças políticas do País, dos
Estados da Bacia do Rio São Francisco
E, mais precisamente, do Sertão de
Itaparica
“Alegrai-vos com os que se alegram,
chorai com os que choram” (Rm 12,15)
Nós, bispos, presbíteros, diáconos,
religiosas, leigos e leigas, representantes das comunidades quilombolas e de
povos indígenas, pesquisadores e estudantes, reunidos em Floresta – PE nos dias
5 e 6 de novembro de 2019, chamados, como cristãos, a sermos solidários com
toda criatura humana e com a natureza, e a fazer da nossa vida e da nossa fé um
sinal e um instrumento do amor de Deus para com todas as suas criaturas,
sentimo-nos impelidos a escutar o povo de Itacuruba e da região do Sertão de
Itaparica a respeito das esperanças e dos temores suscitados pelo projeto de implantação de um
complexo nuclear naquele município, à beira do rio São Francisco. Escutar para
entender, para se informar, para solidarizar-se, escutar como estilo de
caminhar juntos, a fim de que todos possam ser protagonistas das suas vidas e
do seu futuro. Em tudo, fomos conduzidos e iluminados pela constatação de que
progresso e desenvolvimento só são verdadeiros e reais quando promovem a vida,
a partir da vida dos mais necessitados, e não a economia e o lucro de uma
restrita elite.
Nossa primeira preocupação é com a vida
de quantos moram na região, com o trabalho, a cultura, o futuro, a
possibilidade de um crescimento e de um desenvolvimento de acordo com as suas
caraterísticas, tradições, possibilidades e aspirações.
O povo que mora em Itacuruba e na região
tem rosto e tem nome, história que fala de promessas não cumpridas, quando foi
tirado de sua terra pela construção das barragens da hidrelétrica, de
esperanças frustradas pela impossibilidade de continuar a trabalhar dignamente
para a sua vida, de depressão, de suicídio entre os jovens que não aceitam ter
uma vida fútil e sem sentido, reduzida ao consumismo. Sentimos, nas falas deste
povo, o drama de quem desejaria mostrar suas forças e energias para o presente
e o futuro, mas não tem perspectivas. Esse povo não sente a necessidade de
usina nuclear, não acredita em promessas que já ouviu trinta anos atrás e que resultaram
na situação problemática em que hoje vive.
Progresso não pode ser palavra bonita,
mas vazia, não pode significar imposição de um modelo de vida baseado no ter e
que acarreta problemáticas sociais muito fortes. Com quais instrumentos de
conhecimento, com quais estruturas sociais o povo de Itacuruba e região irá
enfrentar a transformação decorrente da chegada de muitas pessoas na sua terra?
Quais serão as possibilidades de desenvolver harmoniosamente a sua vida no
futuro próximo? Temos, de fato, uma grande responsabilidade também com as
próximas gerações, pois as nossas escolhas, ainda mais em casos como este,
sempre vão gerar consequências importantes. Diz o Papa Francisco na sua
Encíclica Laudato Sí: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos,
às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente
de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária.
Quando nos interrogamos acerca do mundo que queremos deixar, referimo-nos
sobretudo à sua orientação geral, ao seu sentido, aos seus valores... se esta
pergunta é posta com coragem, leva-nos inexoravelmente a outras questões muito
diretas: Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta
vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?
Por isso, já não basta dizer que devemos preocupar-nos com as gerações futuras;
exige-se ter consciência de que é a nossa própria dignidade que está em jogo”
(LS 160). Por toda esta série de considerações, denunciamos os erros do passado
e pensamos que eles deveriam nos ajudar a refletir melhor para que não sejam
repetidos e, sobretudo, a não tomar decisões sem escutar os interessados.
A saúde do rio São Francisco também nos
preocupa, porque, dele e com ele, o nosso povo vive e cresce, e não pode ser
considerado como um instrumento de lucro por uma técnica que sabe fazer muitas
coisas, mas que, até agora, raramente foi colocada a serviço da vida plena da
nossa casa comum.
Todos aceitam com entusiasmo a
possibilidade de uma vida melhor, mas isso significa acesso à educação e à
saúde, possibilidade de um trabalho real e contínuo, justiça social e defesa
das culturas; significa, sobretudo, unir a população e vislumbrar outros
modelos de desenvolvimento pautados no princípio da dignidade da vida humana. É
esse o tipo de desenvolvimento de que estamos precisando, algo que faça do povo
de Itacuruba e região não pessoas que recebem uma “recompensa” por hospedar um
complexo nuclear difícil de aceitar, mas que poderão afirmar sua plena pertença
a um País e contribuir para o crescimento dele com humildade e ousadia.
Conclamamos todos os homens e mulheres
de boa vontade, independentemente de suas convicções político-ideológicas, a
conhecerem os estudos técnicos e sócio-antropológicos relativos à temática, e a
se comprometerem com a defesa e a promoção da vida dos povos, do Rio São
Francisco e do meio ambiente como um todo, a fim de que “todos tenham vida e
vida em abundância” (Jo 10,10).”