O Blog Gota D’Água entrevistou o coordenador do Movimento dos Sem
Terra, Jaime Amorim. Falamos sobre a Caravana Popular em Defesa da Democracia e
seu legado, organização dos trabalhadores, Frente Brasil Popular, posicionamento
do Movimento dos Sem Terra nas eleições municipais e o orgulho que tem do
perfil lutador de Petrolândia.
Com fotos de George Novaes e transcrição de Ronald Torres.
Daniel Filho: Estamos aqui com Jaime Amorim, gostaria que
você fizesse uma fala sobre o que é a Caravana, o que você está achando dela
até aqui, qual a função e o objetivo, se está cumprindo o papel?
Jaime Amorim: Veja
Daniel, nós iniciamos ela lá em Petrolina, o desafio nosso é chegar no Recife.
Nós colocamos aí dois objetivos fundamentais: o primeiro é que em todo o
trajeto a gente faça a denúncia do Golpe. Mas não é só a denúncia por denúncia,
é fazer com que as pessoas entendam o quê que está em disputa nesse Golpe, qual
o interesse da burguesia e o que os trabalhadores vão perder com o Golpe, por
isso temos feito plenárias, reuniões, debate, atos públicos nessa tentativa de
fazer com que as pessoas efetivamente compreendam a importância da gente fazer
um grande movimento nacional pra barrar o Golpe que está sendo imposto contra o
Estado Democrático de Direito no Brasil. Mas ao mesmo tempo, a Caravana se
pré-dispõe a organizar os trabalhadores. Nós construímos nesse período uma
coisa nova nesse país, que é a unidade dos trabalhadores a partir da Frente
Brasil Popular.
A Frente Brasil Popular, ela
foi se constituindo desse processo, da resistência, da luta política. Desde
2014 quando terminam as eleições, do segundo turno, e que na prática a eleição
foi convocada ao segundo turno, o resultado dela foi os movimentos sociais que
foram pra rua, e não só a vontade da presidenta e do Partido dos Trabalhadores.
Uma disposição de entender que o Brasil não podia ter retrocesso. A partir daí,
passamos a organizar e a constituir a Frente Brasil Popular.
Hoje a Frente Brasil Popular
é composta por todos os movimentos sociais, por duas centrais sindicais: a CUT
e a CTB, e por três partidos políticos: o PCdoB, o PT e o PDT. Então, nas
regionais e nos municípios nós vamos juntando todo mundo e deixando comitês
formados, organizando esse processo aí. Então, a Caravana tem esses dois
objetivos: denunciar e ao mesmo tempo organizar os trabalhadores.
Nós iniciamos em Petrolina,
num ato público importante, mas em Petrolina apenas criamos as condições da
organização. Ouricuri foi muito bem organizado, fizemos caminhada, fizemos
reuniões, organizamos comitê, fizemos debate com todo mundo. Enfim, acho que
Ouricuri foi muito importante.
Nós fizemos um ato
importante também na passagem por Salgueiro, foi um ato cultural,
político-cultural, com todas as organizações de Salgueiro, os trabalhadores
vieram, foi bem massivo, e aqui agora então em Petrolândia, eu acho que nós
aqui iniciamos, vamos dizer assim, um novo momento da Caravana, de municípios
que têm os movimentos organizados mais consolidados, força política bem mais
organizada. Aqui em Petrolândia eu acho que já foi feita a base, que é
constituir os comitês, fazer o debate, fazer análise de conjuntura. Acho que a
Caravana não só vai conseguir cumprir seus objetivos, como deixar um legado
importante de mobilização e de organização aqui no estado de Pernambuco.
Daniel Filho: Jaime, o Golpe foi garantido pela direita com uma
grande coalizão entre os políticos. Essa coalizão vai se estender para as
eleições municipais, muitos dos políticos golpistas, principalmente da região,
vão apoiar maciçamente algumas prefeituras. O Movimento Sem Terra já tem algum
encaminhamento de como conduzir seu povo nas eleições municipais?
Jaime Amorim: Então veja,
o Golpe é uma aliança entre taticamente todo o setor do empresariado
brasileiro, antes era parte, hoje é quase todos. O parlamento brasileiro,
parlamento reacionário, tanto do Senado quanto na Câmara federal, o poder
Judiciário, principalmente o STF que comanda de forma reacionária e tem
praticamente o Golpe tem sido conspirado a partir do STF e a grande mídia
brasileira, principalmente capitaneada aí pela Rede Globo. Construíram,
impulsionaram, pensaram todo esse processo golpista no Brasil.
É claro que, também a
direita se expôs, e houve principalmente aqui em Pernambuco uma divisão da
aliança mais progressista que disputava as eleições com o rompimento do PSB com
o governo, mas também o fato do PSB ter aderido ao golpismo. [...] não, o PSB
deixou livre pra quem quisesse votar, e vários deputados importantes no Brasil
o PSB votou contra o Golpe, mas aqui em Pernambuco não. Teve uma unanimidade do
PSB que praticamente definiu a diferença dos votos que Dilma precisava. Foram
os votos que o PSB deu contra, deu a favor ao impeachment. Então, essa é uma relação bastante difícil aqui pra
gente, considerando que há uma traição. Não é só o Golpe, temos os golpistas,
que é o pessoal da direita, mas tem os traidores golpistas. Nós consideramos
principalmente aqui na região o Kaio Maniçoba (PMDB), Gonzaga Patriota (PSB),
Fernando Filho (PSB), e agora Fernando Bezerra no Senado. Enfim, todos os
deputados federais do PSB como traidores, além de serem golpistas traíram o
processo histórico. É difícil de entender que o PSB tendo uma história que tem,
tendo uma história aqui principalmente com Miguel Arraes, acabaram tomando esse
rumo, traindo né?
Bom, mas nós temos bons
companheiros no PSB como Roberta Amaral que acabou se frustrando nesse
processo, Lídice da Mata na Bahia, nós temos
Ricardo Coutinho Governador da Paraíba, que se mantiveram firmes, Jorge Gomes
em Caruaru denunciou, anunciou que é contra o Golpe, enfim, e tem outros
companheiros ainda e muito que saíram do PSB como o Beto que é um dirigente da
FETAPE, diretor, um dos principais diretores da FETAPE que saiu do PSB em
função desse processo.
Agora, como é que vai se dar
as alianças nos municípios? Eu que sou ligado muito a ala dos movimentos o movimento
Sem Terra pensa assim: só é possível nós apoiarmos em uma aliança um candidato
do PSB se de fato ele fizer declaração pública até por escrito, que é contra o impeachment, que é contra o Golpe que é
a favor da Democracia. Então a partir disso, dá pra gente fazer aliança. No
todo fica muito difícil, constrange muito. Nós prioritariamente do Movimento
Sem Terra estamos propondo, que os nossos companheiros façam as suas opções
eleitorais a partir da frente que está na Frente Brasil Popular, ou seja, o PT,
o PCdoB e o PDT. Então onde o PDT tem gente progressista que dá pra contar, então
a gente vai conduzindo o processo eleitoral aí. E eu sei que tem uma orientação
do PT, em que aonde o PT puder disputar tem que disputar pra poder marcar
posição, e a gente está junto com o Partido dos Trabalhadores, ajudando,
apoiando e organizando o processo eleitoral.
Daniel Filho: Deixe as suas considerações finais para os
nossos leitores do que você achou da Caravana aqui em Petrolândia.
Jaime Amorim: Eu queria aproveitar
justamente pra falar pra Petrolândia. Eu, já há muito tempo admiro muito
Petrolândia, nós fizemos um trabalho aqui já de muito anos, da luta pela
Reforma Agrária, nós temos muitas famílias assentadas, mais de mil famílias
assentadas em Petrolândia e ao redor, porque Petrolândia e Tacaratu no campo se
confundem muito. Mas, o ano passado, ano passado não, em 2014, eu já falei isso
em público e vou voltar a falar, no meu sentimento, a vitória de Dilma em
Pernambuco ela começa por Petrolândia, porque aqui foi o primeiro ato no
interior, do interior que deu uma cara nova, que deu uma vida na massificação
da campanha do segundo turno de Dilma. Aí a partir de Petrolândia quem teve
aqui, eu pelo menos passei em todos os municípios falando isso, de Petrolândia
para todo Pernambuco e para o Brasil, nós avermelhamos esse país, até chegarmos
a vitória com cinquenta e quatro milhões de votos.
Essa semana não é só hoje.
Petrolândia tá a praticamente há quase uma semana aqui mobilizada, fazendo
pichação, organizando o povo, organizando atividades, fazendo reuniões, ontem
foram feitas reuniões com o Levante Popular da Juventude. Enfim, Petrolândia
começa a se constituir com uma unidade política importante. E a beleza que foi
a recepção da Caravana é resultado desse debate, de um conjunto de lideranças
que estão unificando. O pessoal do
sindicato com o Movimento Sem Terra, com o sindicato dos professores, com o
Partido dos Trabalhadores, enfim, estamos construindo uma unidade e essa
unidade vai dar resultado, muito mais do que resultado eleitoral, é resultado
na construção dessa unidade política, mas também de elevar o nível de
consciência da população.
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