quarta-feira, 20 de julho de 2016

ENTREVISTA JAIME AMORIM


O Blog Gota D’Água entrevistou o coordenador do Movimento dos Sem Terra, Jaime Amorim. Falamos sobre a Caravana Popular em Defesa da Democracia e seu legado, organização dos trabalhadores, Frente Brasil Popular, posicionamento do Movimento dos Sem Terra nas eleições municipais e o orgulho que tem do perfil lutador de Petrolândia.
Com fotos de George Novaes e transcrição de Ronald Torres.

Daniel Filho: Estamos aqui com Jaime Amorim, gostaria que você fizesse uma fala sobre o que é a Caravana, o que você está achando dela até aqui, qual a função e o objetivo, se está cumprindo o papel?
Jaime Amorim: Veja Daniel, nós iniciamos ela lá em Petrolina, o desafio nosso é chegar no Recife. Nós colocamos aí dois objetivos fundamentais: o primeiro é que em todo o trajeto a gente faça a denúncia do Golpe. Mas não é só a denúncia por denúncia, é fazer com que as pessoas entendam o quê que está em disputa nesse Golpe, qual o interesse da burguesia e o que os trabalhadores vão perder com o Golpe, por isso temos feito plenárias, reuniões, debate, atos públicos nessa tentativa de fazer com que as pessoas efetivamente compreendam a importância da gente fazer um grande movimento nacional pra barrar o Golpe que está sendo imposto contra o Estado Democrático de Direito no Brasil. Mas ao mesmo tempo, a Caravana se pré-dispõe a organizar os trabalhadores. Nós construímos nesse período uma coisa nova nesse país, que é a unidade dos trabalhadores a partir da Frente Brasil Popular.
A Frente Brasil Popular, ela foi se constituindo desse processo, da resistência, da luta política. Desde 2014 quando terminam as eleições, do segundo turno, e que na prática a eleição foi convocada ao segundo turno, o resultado dela foi os movimentos sociais que foram pra rua, e não só a vontade da presidenta e do Partido dos Trabalhadores. Uma disposição de entender que o Brasil não podia ter retrocesso. A partir daí, passamos a organizar e a constituir a Frente Brasil Popular.
Hoje a Frente Brasil Popular é composta por todos os movimentos sociais, por duas centrais sindicais: a CUT e a CTB, e por três partidos políticos: o PCdoB, o PT e o PDT. Então, nas regionais e nos municípios nós vamos juntando todo mundo e deixando comitês formados, organizando esse processo aí. Então, a Caravana tem esses dois objetivos: denunciar e ao mesmo tempo organizar os trabalhadores.
Nós iniciamos em Petrolina, num ato público importante, mas em Petrolina apenas criamos as condições da organização. Ouricuri foi muito bem organizado, fizemos caminhada, fizemos reuniões, organizamos comitê, fizemos debate com todo mundo. Enfim, acho que Ouricuri foi muito importante.
Nós fizemos um ato importante também na passagem por Salgueiro, foi um ato cultural, político-cultural, com todas as organizações de Salgueiro, os trabalhadores vieram, foi bem massivo, e aqui agora então em Petrolândia, eu acho que nós aqui iniciamos, vamos dizer assim, um novo momento da Caravana, de municípios que têm os movimentos organizados mais consolidados, força política bem mais organizada. Aqui em Petrolândia eu acho que já foi feita a base, que é constituir os comitês, fazer o debate, fazer análise de conjuntura. Acho que a Caravana não só vai conseguir cumprir seus objetivos, como deixar um legado importante de mobilização e de organização aqui no estado de Pernambuco.

Daniel Filho: Jaime, o Golpe foi garantido pela direita com uma grande coalizão entre os políticos. Essa coalizão vai se estender para as eleições municipais, muitos dos políticos golpistas, principalmente da região, vão apoiar maciçamente algumas prefeituras. O Movimento Sem Terra já tem algum encaminhamento de como conduzir seu povo nas eleições municipais?
Jaime Amorim: Então veja, o Golpe é uma aliança entre taticamente todo o setor do empresariado brasileiro, antes era parte, hoje é quase todos. O parlamento brasileiro, parlamento reacionário, tanto do Senado quanto na Câmara federal, o poder Judiciário, principalmente o STF que comanda de forma reacionária e tem praticamente o Golpe tem sido conspirado a partir do STF e a grande mídia brasileira, principalmente capitaneada aí pela Rede Globo. Construíram, impulsionaram, pensaram todo esse processo golpista no Brasil.
É claro que, também a direita se expôs, e houve principalmente aqui em Pernambuco uma divisão da aliança mais progressista que disputava as eleições com o rompimento do PSB com o governo, mas também o fato do PSB ter aderido ao golpismo. [...] não, o PSB deixou livre pra quem quisesse votar, e vários deputados importantes no Brasil o PSB votou contra o Golpe, mas aqui em Pernambuco não. Teve uma unanimidade do PSB que praticamente definiu a diferença dos votos que Dilma precisava. Foram os votos que o PSB deu contra, deu a favor ao impeachment. Então, essa é uma relação bastante difícil aqui pra gente, considerando que há uma traição. Não é só o Golpe, temos os golpistas, que é o pessoal da direita, mas tem os traidores golpistas. Nós consideramos principalmente aqui na região o Kaio Maniçoba (PMDB), Gonzaga Patriota (PSB), Fernando Filho (PSB), e agora Fernando Bezerra no Senado. Enfim, todos os deputados federais do PSB como traidores, além de serem golpistas traíram o processo histórico. É difícil de entender que o PSB tendo uma história que tem, tendo uma história aqui principalmente com Miguel Arraes, acabaram tomando esse rumo, traindo né?
Bom, mas nós temos bons companheiros no PSB como Roberta Amaral que acabou se frustrando nesse processo, Lídice da Mata na Bahia, nós temos Ricardo Coutinho Governador da Paraíba, que se mantiveram firmes, Jorge Gomes em Caruaru denunciou, anunciou que é contra o Golpe, enfim, e tem outros companheiros ainda e muito que saíram do PSB como o Beto que é um dirigente da FETAPE, diretor, um dos principais diretores da FETAPE que saiu do PSB em função desse processo.
Agora, como é que vai se dar as alianças nos municípios? Eu que sou ligado muito a ala dos movimentos o movimento Sem Terra pensa assim: só é possível nós apoiarmos em uma aliança um candidato do PSB se de fato ele fizer declaração pública até por escrito, que é contra o impeachment, que é contra o Golpe que é a favor da Democracia. Então a partir disso, dá pra gente fazer aliança. No todo fica muito difícil, constrange muito. Nós prioritariamente do Movimento Sem Terra estamos propondo, que os nossos companheiros façam as suas opções eleitorais a partir da frente que está na Frente Brasil Popular, ou seja, o PT, o PCdoB e o PDT. Então onde o PDT tem gente progressista que dá pra contar, então a gente vai conduzindo o processo eleitoral aí. E eu sei que tem uma orientação do PT, em que aonde o PT puder disputar tem que disputar pra poder marcar posição, e a gente está junto com o Partido dos Trabalhadores, ajudando, apoiando e organizando o processo eleitoral.

Daniel Filho: Deixe as suas considerações finais para os nossos leitores do que você achou da Caravana aqui em Petrolândia.
Jaime Amorim: Eu queria aproveitar justamente pra falar pra Petrolândia. Eu, já há muito tempo admiro muito Petrolândia, nós fizemos um trabalho aqui já de muito anos, da luta pela Reforma Agrária, nós temos muitas famílias assentadas, mais de mil famílias assentadas em Petrolândia e ao redor, porque Petrolândia e Tacaratu no campo se confundem muito. Mas, o ano passado, ano passado não, em 2014, eu já falei isso em público e vou voltar a falar, no meu sentimento, a vitória de Dilma em Pernambuco ela começa por Petrolândia, porque aqui foi o primeiro ato no interior, do interior que deu uma cara nova, que deu uma vida na massificação da campanha do segundo turno de Dilma. Aí a partir de Petrolândia quem teve aqui, eu pelo menos passei em todos os municípios falando isso, de Petrolândia para todo Pernambuco e para o Brasil, nós avermelhamos esse país, até chegarmos a vitória com cinquenta e quatro milhões de votos.
Essa semana não é só hoje. Petrolândia tá a praticamente há quase uma semana aqui mobilizada, fazendo pichação, organizando o povo, organizando atividades, fazendo reuniões, ontem foram feitas reuniões com o Levante Popular da Juventude. Enfim, Petrolândia começa a se constituir com uma unidade política importante. E a beleza que foi a recepção da Caravana é resultado desse debate, de um conjunto de lideranças que estão unificando.  O pessoal do sindicato com o Movimento Sem Terra, com o sindicato dos professores, com o Partido dos Trabalhadores, enfim, estamos construindo uma unidade e essa unidade vai dar resultado, muito mais do que resultado eleitoral, é resultado na construção dessa unidade política, mas também de elevar o nível de consciência da população.


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