segunda-feira, 29 de setembro de 2014

QUANDO A INTOLERÂNCIA SE TRAVESTE DE BONDADE

Foto: Brasil Post

Não lembro quantas vezes ouvi a frase: “Gosto muito dele,  pena que é ateu” ou ainda “Só não gosto dele porque é ateu”. Alguns afirmam respeitar meu posicionamento, mas pregam o meu silêncio: “Tudo bem você ser ateu, mas precisa falar? Guarda só pra você, pô!" Vai acabar influenciando os outros. Vai pegar mal pra você”. Também, em entrevista, ouvi um político do nosso município afirmar aos blogueiros que o entrevistavam: “Não confio em ateu, essa gente é capaz de tudo para chegar ao poder”.
Proponho a prática de se por no lugar do outro. Os mesmos questionamentos acima com lacunas que serão preenchidas pelas alternativas “católico, evangélico, político, negro, branco, homossexual,  mulher, nordestino...” Vamos lá?:

1) Não gosto de você porque você é________________.

2) Uma pessoa tão boa, pena que é_________________.

3) Esses ____________ não são confiáveis. São capazes de tudo para chegar ao poder.

4) Tudo bem você ser ____________, mas não precisa divulgar. Guarde somente pra você.

Para deixar mais interessante, preencha as lacunas acima com um ou mais segmentos que você se identifica. Sendo evangélica, mulher, negra complete as frases assim e perceberá a angústia de ser rotulado pejorativamente sem oportunidade de rebater os questionamentos.
Geralmente as lacunas são preenchidas, quase que inconscientemente, com identificações minoritárias. Todas elas seguidas de argumentos ridículos que carregam em sua premissa todo o teor discriminatório e o “alvará” para romper com seus próprios ensinamentos sagrados:  “Amar o próximo como a si mesmo e não julgar o próximo para não ser julgado” a mim são lições belas que servem à construção de uma sociedade mais sadia independente da crença religiosa, no entanto, passam a ser exceções quando há um “bem maior”. O dogma é apresentado acima do amar e não julgar. Morbidamente discursos fundamentalistas vão se mesclando a outros:

1) "Rituais de magia negra estão ligados à maldade e afligem a comunidade (quiçá a humanidade), precisam de um basta!" 

2) “Homossexuais são assassinados, não por serem vítimas de discriminação, mas por ‘culpa’ dos mesmos. Afinal procuram a violência que sofrem”.

3) “Ateus, por não temerem a Deus, são, certamente, pessoas amorais, antiéticas e que farão de tudo para pregar a mentira”.

4) “O negro é preconceituoso com ele mesmo, tanto que, quando rico, casa logo com loira”.

“Somos todos macacos” (quem lembra da infame campanha?)

5) “A mulher estuprada procurou por isso. O que ela queria vestida daquela forma?”

A preposição MAS também é uma constante na boca da discriminação:

1) “Nada contra os gays. Eu amo o gay, MAS sua prática é condenável”.

2) “Não tenho preconceito contra negros, MAS as cotas raciais são uma forma de preconceito contra o branco”.

Haverá os que se reconhecem nesse texto a tomar um dos dois caminhos: Negar tudo e, consequentemente, queimar a cabeça reformulando suas “verdades” preconceituosas em novos argumentos que não denunciem sua mediocridade ou ainda, pior, os que se reconhecem e admitem sua incompetência em ser um cidadão melhor:

“Admito que sou racista. Vem de mim, não consigo ser diferente e não vou fazer como muitos hipócritas que são preconceituosos e fingem não ser. Sou racista e pronto!”

Esse texto já estava escrito há um tempo e hoje, um dia após ouvir as sandices nojentas e homofóbicas do presidenciável Levy Fidelix, em debate na Tv Record, senti a necessidade de postá-lo.
Apresento o texto pra dizer que estou entre as minorias. Não com sentimento de vitimização, mas de força contra As maiorias que se apresentam de forma nazista travestidas de bondade. Contra a maioria convocada por Levy ontem a combater as minorias. Contra aqueles que acharam divertidas e corajosas suas colocações.

Não foi, foi ridiculamente assustador.

Para rever a fala do então candidato, clique no link a seguir:

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