Foto: Brasil Post |
Não lembro quantas vezes ouvi a frase: “Gosto
muito dele, pena que é ateu” ou ainda
“Só não gosto dele porque é ateu”. Alguns afirmam respeitar meu posicionamento,
mas pregam o meu silêncio: “Tudo bem você ser ateu, mas precisa falar? Guarda
só pra você, pô!" Vai acabar influenciando os outros. Vai pegar mal pra você”.
Também, em entrevista, ouvi um político do nosso município afirmar aos
blogueiros que o entrevistavam: “Não confio em ateu, essa gente é capaz de tudo
para chegar ao poder”.
Proponho a prática de se por no lugar do
outro. Os mesmos questionamentos acima com lacunas que serão preenchidas pelas
alternativas “católico, evangélico, político, negro, branco, homossexual, mulher, nordestino...” Vamos lá?:
1) Não gosto de você porque você é________________.
2) Uma pessoa tão boa, pena que
é_________________.
3) Esses ____________ não são confiáveis. São
capazes de tudo para chegar ao poder.
4) Tudo bem você ser ____________, mas não
precisa divulgar. Guarde somente pra você.
Para deixar mais interessante, preencha as
lacunas acima com um ou mais segmentos que você se identifica. Sendo
evangélica, mulher, negra complete as frases assim e perceberá a angústia de
ser rotulado pejorativamente sem oportunidade de rebater os questionamentos.
Geralmente as lacunas são preenchidas, quase
que inconscientemente, com identificações minoritárias. Todas elas seguidas de
argumentos ridículos que carregam em sua premissa todo o teor discriminatório e
o “alvará” para romper com seus próprios ensinamentos sagrados: “Amar o próximo como a si mesmo e não julgar
o próximo para não ser julgado” a mim são lições belas que servem à construção
de uma sociedade mais sadia independente da crença religiosa, no entanto,
passam a ser exceções quando há um “bem maior”. O dogma é apresentado acima do
amar e não julgar. Morbidamente discursos fundamentalistas vão se mesclando a outros:
1) "Rituais de magia negra estão ligados à maldade e afligem a
comunidade (quiçá a humanidade), precisam de um basta!"
2) “Homossexuais são assassinados, não por serem vítimas de discriminação, mas por ‘culpa’ dos mesmos. Afinal procuram a violência que sofrem”.
3) “Ateus, por não temerem a Deus, são, certamente, pessoas amorais, antiéticas e que farão de
tudo para pregar a mentira”.
4) “O negro é preconceituoso com
ele mesmo, tanto que, quando rico, casa logo com loira”.
“Somos todos macacos” (quem lembra da infame
campanha?)
5) “A mulher estuprada procurou por isso. O
que ela queria vestida daquela forma?”
A preposição MAS também é uma constante na
boca da discriminação:
1) “Nada contra os gays. Eu amo o gay, MAS
sua prática é condenável”.
2) “Não tenho preconceito contra negros, MAS
as cotas raciais são uma forma de preconceito contra o branco”.
Haverá os que se reconhecem nesse texto a
tomar um dos dois caminhos: Negar tudo e, consequentemente, queimar a cabeça
reformulando suas “verdades” preconceituosas em novos argumentos que não
denunciem sua mediocridade ou ainda, pior, os que se reconhecem e admitem sua
incompetência em ser um cidadão melhor:
“Admito que sou racista. Vem de mim, não
consigo ser diferente e não vou fazer como muitos hipócritas que são
preconceituosos e fingem não ser. Sou racista e pronto!”
Esse texto já estava escrito há um tempo e
hoje, um dia após ouvir as sandices nojentas e homofóbicas do presidenciável
Levy Fidelix, em debate na Tv Record, senti a necessidade de postá-lo.
Apresento o texto pra dizer que estou entre
as minorias. Não com sentimento de vitimização, mas de força contra As maiorias
que se apresentam de forma nazista travestidas de bondade. Contra a maioria
convocada por Levy ontem a combater as minorias. Contra aqueles que acharam
divertidas e corajosas suas colocações.
Não foi, foi ridiculamente assustador.
Para rever a fala do então candidato, clique no
link a seguir:
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