Imagem: George Novaes |
O Blog Gota d’água
participou como convidado da Reunião da
Coordenação Nacional do Movimento dos Sem Terra (MST) ocorrido no centro de
Formação Paulo Freire, localizado em Caruaru, no assentamento Normandia, (26 a 30 de Janeiro). Grandes debates,
análises, planejamento e diretrizes definiram os rumos do movimento para os
próximo dois anos.
Tivemos a
oportunidade de conversar brevemente com o economista, ativista social
brasileiro e membro da direção nacional do movimento, João Pedro Stédile, que falou sobre crise, eleições municipais, a
necessidade de representações sociais aglutinarem forças para a construção de um
projeto político nacional, entre outros temas.
Imagem: George Novaes |
DANIEL FILHO - Estamos aqui com João Pedro Stédille.
Fique a vontade para falar desse encontro nacional do MST.
JOÃO PEDRO STÉDILE – O MST tem uma metodologia de a cada 2 anos reunir a coordenação nacional
que são 15 dirigentes por estado. Estamos aqui em 450 companheiros e companheiras. A formação é paritária, metade
homens e metade mulheres. Também costumamos fazer rodízio do local para que
todas as cidades brasileiras ao longo do tempo participem. Uma forma dos
dirigentes irem interagindo com as comunidades locais.
Estamos muito
satisfeitos de fazer nosso encontro aqui em Caruaru. O último que fizemos foi
em 2003, logo quando o Lula se elegeu. Pernambuco é um estado de muita tradição
de luta pela reforma agrária desde as ligas camponesas, Francisco Julião,
Gregório Bezerra, os grandes intelectuais que nos ajudaram a pensar o Brasil e
que são pernambucanos, como Paulo Freire, Josué de Castro... Então há um
carinho muito grande do movimento por toda essa tradição de lutas. Vir aqui
para Caruaru debater é como vir beber na fonte histórica e nos ajudar a ter
mais clareza do que está acontecendo no Brasil e, consequentemente, nos
posicionar melhor para a luta da reforma agrária. Então daqui sairemos com
planejamentos para os próximos dois anos, com as principais diretrizes a
orientar setores do movimento: a formação, a educação, a frente de massa, para
serem aplicadas em seus estados e se tornem planos mais concretos de acordo com
sua realidade. Portanto está sendo muito proveitoso e estamos muito satisfeitos
com a hospitalidade e generosidade do povo pernambucano que nos encheu de
comida (risos).
DF – Estamos vivenciando e vendo uma verdadeira
polarização na nossa política, da qual o senhor inclusive foi vítima (agressão sofrida no aeroporto de Fortaleza. Matéria relacionada
a esse tema ao fim dessa entrevista), discursos e atos ferrenhos tanto da direita quanto esquerda. Muita gente considera que nessas eleições municipais esse sentimento esteja ainda mais acirrado e que poderão definir o rumo da política partidária no país. Então gostaria que nos dissesse qual deverá ser o posicionamento
do movimento para as eleições desse ano.
Imagem: Daniel Filho |
PS – Nós
estamos preocupados, antes das eleições, com os rumos do país, pois o Brasil
está vivendo uma fase muito grave que se assemelha muito o que se viveu na
década de 60, de 80, que é quando se aglutinam várias crises ao mesmo tempo.
Então estamos vivendo uma crise econômica, a economia brasileira está indo escada
abaixo; há uma crise social, com problemas de grandes cidades se avolumando; há
uma crise ambiental, por causa dessa ofensiva do capital contra a natureza, como
vocês acompanham que está acontecendo com a Vale do Rio Doce, ou ainda lá em
São Paulo, onde moro, que falta água todo dia; e há uma crise política que é
representada pelo sequestro que os empresários fizeram da política brasileira. Com o financiamento das campanhas eles elegem quem eles querem. Estamos com uma
situação patética onde temos mais de cem parlamentares e senadores réus do STF
que podem vir a ser presos ou cassados por corrupção e, por conta disso, o povo
não se enxerga mais nos políticos. O parlamento não representa mais o povo,
então como sair disso? Para sair de uma situação tão grave, mais do que os
partidos será necessário que as forças sociais brasileiras construam um novo
projeto para sair dessa enrascada e isso leva tempo, pois exige uma engenharia
de discutir ideias, de aglutinar forças... E o que estamos vendo agora é que
nenhuma força social, nem na classe dominante, nem a classe média, nem a
trabalhadora, está conseguindo ter um projeto de saída, muito menos de
aglutinar forças diante de si. Então, diante da crise, cada um diz a besteira
que quiser. E alguns setores, felizmente só da pequena burguesia mais
reacionária das grandes cidades, é que levantaram a tese do impeachment. Mas o
impeachment não resolve nada, pelo contrário, levaria a mais uma crise
institucional. A própria burguesia brasileira se deu conta de que não adianta
tirar a Dilma.
Imagem: George Novaes |
Felizmente nós
derrubamos essa tese nas ruas com as mobilizações exitosas em 16 de Dezembro.
Mas agora, ainda a classe trabalhadora, ela precisa de mais clareza de qual
projeto que quer e botar o povo na rua agora tomando a ofensiva. Durante 2015
ficamos nos defendendo contra o impeachment, contra a perda de direitos...
Então agora é ir para ofensiva: exigir mudança da política econômica, exigir
baixar taxas de juros, defender os direitos dos trabalhadores, defender a
reforma agrária. Cada um na sua área. Eu espero que esse período das eleições,
ainda que municipais, que são sempre permeadas por problemas locais, as vezes
mais que projetos, as eleições são disputadas pelas pessoas, pelo grau de popularidade
que a pessoa tem no município, mais do que o partido... Apesar disso acho que
essas eleições podem nos ajudar a politizar o debate na sociedade, até porque
os problemas que os municípios estão enfrentando de falta de recursos nós não
vamos resolver nos municípios. Os problemas são de ordem nacional e precisam
ser resolvidos a nível nacional.
Espero que vocês lá
ajudem a fazer esse debate da política brasileira.
Imagem: George Novaes |
DF – O espaço está aberto para o senhor mandar um alô
aos leitores do BLOG GOTA D’ÁGUA, de Petrolândia, Sertão de Itaparica.
PS – Eu
me alegro de estar conversando com todos vocês dessa região de Itaparica,
Petrolândia. Espero que vocês sempre acompanham esse Blog e sempre se mantenham
informados, pois só o conhecimento liberta as pessoas. E a informação, blogs,
redes sociais hoje têm um poder muito grande de pelo menos democratizar a
informação para que as pessoas, com a informação, tenham o discernimento para
fazer o seu julgamento do que é certo do que é errado, de como se posicionar, de
como votar.
Então felicito pelo
esforço que vocês estão fazendo com o blog, pois é uma pequena guerrilha nessa
guerra pela democratização dos meios de comunicação. Grande abraço a todos e
nos ajudem a mudar o Brasil.
Sobre as agressões sofridas pelo ativista, segue link:
Imagem: assessoria |
Imagem: Daniel Filho |
Imagem: George Novaes |
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