Imagens: Daniel Flho |
“Meu
filho, acredita que eu fui ao hospital marcar uma consulta e, quando cheguei, a
funcionária me pediu para mostrar o meu título...?
Eu
respondi:
‘Minha
filha, eu vim cuidar de minha saúde, não foi votar, não!’”
“Chegam
aqui, prometem cisterna, poço... O prefeito mesmo disse que em quinze dias ia
ter um poço pra gente... Já tem mais de três meses essa promessa.”
“Não
adianta cisterna, caixa, se não temos o que armazenar. A gente não tem água.
Aqui quem quer água pra beber ou dar aos bodes tem que pagar pelo pipa...”
“Sou
professora contratada. Sei que contrato é um favor, mas não baixo cabeça pra
isso. Não deixo de lutar pela reforma de nossa escola... Não desisto da educação.”
“Minha
filha, contrato não é favor, é obrigação... Não ache que deve favor a eles não.
Eles é que devem pra gente.”
“Um
banheiro a nossa escola não tem... As paredes em tempo de cair. Entra ano sai
ano e só vem promessa de reforma...”
Esses são apenas alguns dos diversos relatos
da comunidade Quilombola Bordas do Lago.
A comunidade recebeu o grupo Frente Popular Petrolândia para uma franca roda de conversa.
Sempre muito bem recebidos a conversa flui e
os mais diversos absurdos referentes à injustiça social surgem.
TERRITÓRIO
A principal é oriunda da velha peleja
territorial. A comunidade está localizada no território de Tacaratu, mas
movimenta a economia de Petrolândia. Premissa para os prefeitos José Gerson da
Silva (Tacaratu) e Lourival Simões (Petrolândia), ambos do PSB, tentarem justificar a total negação de direitos e serviços
públicos básicos à comunidade. Às custas do sofrimento das comunidades e assentamentos,
mantêm a problemática onde está: sem rumo.
E não definir nada significa ouvir coisas
como o diálogo absurdo que inicia esse texto. Servidor de hospital pedindo o
título de eleitor do paciente (mas
o SUS não é universal a garantir acesso integral, universal e igualitário à
população brasileira?), falta de transporte escolar, falta de
água, ausência de políticas públicas... A desculpa do território serve,
inclusive, pra “justificar” mentiras. Há mais de três anos paira a promessa à
comunidade sobre a reforma escolar. Todos os anos entram funcionários no
espaço, fazem a medição, anunciam a data de início das obras... Depois vem a
conversa de sempre: “Queríamos
reformar, mas não podemos porque é território de Tacaratu... e se a gente mexer
na estrutura, seremos processados...” por
sua vez o prefeito Gerson não pode fazer nada, pois todos votam em Petrolândia
e usam os serviços de lá.
“Eles fingem se engolir e brigar, mas
quando tem visita de senador, deputado, a gente vê os dois confraternizando
felizes da vida e a gente aqui nessa situação. É tudo farinha do mesmo saco...
Política é uma coisa sebosa”
POR
QUE UMA ALTERNATIVA POLÍTICA POPULAR?
Causar revolta e instalar a desesperança nas pessoas
sobre política é proposital. Mais que isso, é um projeto de poder. A fala da
senhora que diz ter nojo da política mostra o perigo para a democracia. A
professora e presidenta do Sindicato dos Servidores Municipais de Petrolândia
(SINSEMP), Adriana Araújo, deu o tom
da fala para desconstruir esse triste sentimento:
“Minha
gente, esses absurdos acontecem porque sempre votamos nos mesmos...
Empresários, médicos, advogados... Essa gente sabe o que nós sofremos? Eles
fazem uso dos nossos serviços públicos? Não. Eles têm suas clínicas
particulares. Seus filhos estudam nos melhores colégios particulares e vão pra
escola em carro de luxo. Há um tempo vi a secretária de educação, depois o
prefeito, em seus confortáveis carros, levando os filhos para a escola
particular... O que eles estão dizendo a nós com essa atitude? Se não têm
coragem de matricular os próprios filhos na rede de ensino que são responsáveis
em gerir a mensagem que passam é que a educação e os demais serviços públicos
não prestam.
Eu
sou mãe e professora, fui proibida de usar o ônibus escolar. Justificaram a
proibição dizendo estar seguindo a lei. Eu queria saber por que esse povo só
segue a lei pra ferrar a gente. A lei diz que temos direito à moradia, água,
luz, lazer, mas essa lei eles não se preocupam em cumprir. Mas para garantir esse
cumprimento a gente tem que tirar da cabeça esse negócio de que política é
sebosa. Política é a coisa mais linda do mundo... Isso que estamos fazendo aqui
é política. O que precisamos é confiar em nosso potencial e escolher, dentre
nós, quem nos represente.”
Natan Caetano, presidente do PT em
Petrolândia, e o senhor José Maurício,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia, destacaram a
importância da união da comunidade para o enfrentamento. Afirmaram que enquanto
a pendência territorial não se resolve, a ação do sindicato para diversos
auxílios, como crédito, aposentadoria, fica limitada.
MOÇÃO
DE REPÚDIO
Uma das lideranças da comunidade, Rita de
Cássia Soares, participará da 12ª
Conferência Nacional de Direitos Humanos a se realizar no período de 27 a 29 de abril de 2016 em Brasília e sugeriu ao grupo e
comunidade para assinarem uma moção de repúdio à situação desumana em que vivem
para ser apresentada no dia da conferência. Todos aplaudiram a decisão.
“Estamos
doidos pra ver esses políticos, que pisam aqui em nossa casa de quatro em
quatro anos, virem pedir voto pra gente... O meu mesmo não tem. A gente precisa
é botar um dos nossos pra representar a gente de verdade na prefeitura, porque
esses que estão aí não enganam mais ninguém. Mas é preciso a gente se unir
(...) mesmo tendo nossas dificuldades, vendo nossos filhos sofrendo, não
podemos vender nosso voto...”
Que essa, e tantas outras comunidades
sofridas em Petrolândia, em Outubro, possam dizer amém à fala da companheira
quilombola.
PARABÉNS COLEGAS, TEMOS MESMO QUE LUTAR PELOS NOSSOS DIREITOS.
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