Por unanimidade o TRF4, hoje,
confirmou a condenação de Sérgio Moro e ampliou a sentença para 12 anos de
prisão. Dias antes do julgamento frei Beto escreveu sobre o momento histórico
acontecido hoje e reproduzimos a seguir na íntegra:
LULA
E O JULGAMENTO DO JUDICIÁRIO
Lula, o mais destacado líder popular
brasileiro da atualidade, vai a julgamento dia 24 de janeiro. Não há como ficar
indiferente ao fato.
A expectativa deixa a nação em suspenso. E a
divide: de um lado, aqueles que já o pré-julgaram e esperam apenas que a
sentença seja confirmada pelos juízes de Porto Alegre; de outro, os que afirmam
não haver suficientes provas para condená-lo, e as acusações estão de tal
maneira impregnadas de caráter político que extrapolam o exercício imparcial da
Justiça.
Estamos em ano de eleição presidencial.
Vários candidatos em potencial aguardam o veredicto para tomarem uma decisão.
Com Lula no páreo a disputa fica bem mais difícil para os neocandidatos. É o
que apontam as pesquisas eleitorais.
Lula adotou uma firme postura frente às
acusações que lhe imputam: o ônus da prova cabe ao acusador. Ele se declara
inocente, vítima de uma conspiração do Judiciário movido por forças
aparentemente “ocultas”.
Os que derrubaram Dilma e empossaram Temer
miraram no que viram e acertaram no que não viram. Lula, após oito anos de
mandato presidencial, saiu do Planalto com aprovação de 87% da opinião pública.
É um dado significativo. E ainda conseguiu emplacar por duas vezes a eleição de
Dilma para o comando do país.
Armou-se um golpe parlamentar, à semelhança
dos ocorridos em Honduras e Paraguai, defenestrou-se Dilma do poder para dar
lugar a Temer, acusado de graves delitos. Porém, a costura saiu pior que o
remendo. Temer não consegue alcançar 5% de aprovação. Governa graças ao
descarado “franciscanismo” que mantém a maioria da Câmara dos Deputados refém
dos cofres do Tesouro Nacional, cuja chave Temer traz em mãos.
Nada indica que Temer logrará fazer aprovar a
tão almejada (por ele) reforma da Previdência. Reeleger-se é muito mais
importante para a bancada governista do que enfiar agora mais dinheiro no bolso
e sofrer desgaste político. Afinal, muitos governistas ostentam no pescoço a
corda da Lava Jato, e a reeleição é o modo mais indicado de se manterem
afastados do patíbulo.
Qualquer que seja o resultado do dia 24, Lula
sai ganhando: absolvido, ficará livre das acusações que lhe são feitas. Se
condenado, se tornará um mártir político do Judiciário que condena uns e se
mantém cego e leniente diante de outras figuras políticas que cometeram delitos
comprovados em imagens e gravações exibidas no noticiário.
Na verdade, quem estará sentado no banco dos
réus, dia 24, não será o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Será o Judiciário
brasileiro.
Frei Betto é escritor, autor de “Cartas
da prisão” (Companhia das Letras), entre outros livros.
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