Áureo Cisneiros,
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Conversamos com o presidente do
Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (SINPOL), Áureo Cisneiros,
que há dias vem acompanhando o sertão de Itaparica para averiguar as condições
da segurança pública no interior.
Falou ainda da importância de se ter
representantes parlamentares dos policiais, do risco de Marília Arraes não ser
candidata ao governo do estado, das ameaças e punições sofridas por parte do
governador Paulo Câmara, da situação dos moradores do Bem Querer. Acompanhe:
Daniel
Filho – Quais os objetivos dessa caminhada pela nossa região?
Áureo
Cisneiros – Primeiro agradeço pelo espaço no blog. Viemos
visitar o sertão de Itaparica fazendo as inspeções nas unidades policiais, também
dialogando com a população através da imprensa local e reuniões sobre segurança
pública. A gente vê muito descaso por parte do governo Paulo Câmara com esse
tema. Então iremos gerar um relatório apontando tudo o que foi observado,
enviar para o Ministério Público, OAB, para o próprio governo do estado, para
que haja avanços e possamos, realmente, diminuir esses altos índices de
violência.
DF –
É possível fazer um breve relato do que
foi observado?
AC –
Muitos problemas estruturais. Delegacias degradadas, aqui em Petrolândia, por
exemplo, a promessa do governador de restaurar o prédio da delegacia, que hoje
funciona de forma improvisada numa residência alugada sem as especificações e
adequações de uma unidade policial o que dificulta muito o trabalho. Falta de
efetivo, a quantidade de policiais é insuficiente. Preocupa muito, pois a falta
de planejamento e investimento se reflete nesses índices absurdos da violência
aqui na região.
DF –
Esse cenário é parecido com o restante do estado segundo suas observações? O
governo, então, mente quando fala sobre o assunto?
AC – A propaganda
é muito bonita na televisão com os números maquiados, mas não engana a
população que tem consciência das condições em que vive. Aqui em Petrolândia
mesmo: o prédio naquela situação; descaso; o governador veio aqui, prometeu e
não restaurou, não investiu. A população sente isso e é vítima.
DF –
Gostaria que você comentasse sobre a perseguição a você e ao SINPOL feita pelo
governador Paulo Câmara.
AC – O governo
em vez de dialogar com a gente, de aproveitar esses relatórios que a gente
manda, fazer os investimentos necessários e melhorar a segurança pública para o
povo pernambucano, não...ele prefere perseguir com processos administrativos,
tentando minha demissão desrespeitando o mandato sindical que a gente exerce,
atacando a autonomia...
Governador Paulo Câmara |
É uma forma de calar o SINPOL que tem sido muito
crítico com a questão da segurança pública que vai muito mal. Contra mim o
governador lançou treze (13) processos administrativos, fui condenado em seis
(6) levando cento e sessenta (160) dias de suspensão, ou seja, todo esse tempo
sem salário, na tentativa de me calar, mas não vamos. A gente pode se calar,
mas quando percebermos que Pernambuco voltou a ser seguro. Nosso estado é o
terceiro mais violento do país, mais até do que o Rio de Janeiro que vive uma
intervenção militar. Nossos números indicam que está havendo uma guerra civil e
não há mais como aceitar isso.
DF –
Do ponto de vista trabalhista, qual a importância de ter parlamentares da
classe trabalhadora dos policiais, tanto militar quanto civil?
AC –
Esse ano é fundamental. Ninguém está aguentando tanto descaso com a política e
tantos ataques ao direito dos trabalhadores (...), então é importante eleger
representantes que conheçam e se preocupem com nossas pautas. A ALEPE
(Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco) parece uma coisa hereditária,
passando de pai para filho é um absurdo. Ali era onde deveriam ter os
representantes da classe trabalhadora para construir legislações para melhorar
a vida do povo, mas não, a ALEPE é um grupo de famílias que sempre foram beneficiadas
no estado de Pernambuco sempre esquecendo do povo.
DF –
Seu nome estaria posto a uma pré-candidatura?
AC - Sim,
meu nome está posto não por mim, mas por uma decisão coletiva de vários
sindicatos e da própria categoria dos policiais civis do qual sou representante,
para fazer uma defesa da classe trabalhadora e da segurança pública.
Marília Arraes, pré-candidataao governo do estado pelo PT |
DF –
Comente sobre esse cenário acerca da pré-candidatura da vereadora Marília
Arraes a governo do estado. Um nome novo, jovem, que desponta em todas as
pesquisas, mas que encontra resistência em algumas correntes, dentro do próprio
partido, em não querer essa candidatura e preferir uma aliança com o PSB.
Dani Portela, pré-candidata
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AC –
Apesar de eu ser do PSOL e nosso partido ter candidatura própria ao governo do
estado, que é a advogada e feminista Dani Portela, eu vejo com muita decepção
essa questão de retirar Marília Arraes do páreo. Uma pessoa nova, com propostas
novas, de um partido importante, e aí uma parte querer conduzir para um caminho
totalmente conservador e contrário aos pleitos trabalhistas onde muitos dos
deputados do PSB votaram pela retirada de direitos, além de terem votado no
impeachment da Dilma e agora a gente vê essa aproximação de parte do PT com o
governo Paulo Câmara, isso é totalmente absurdo, e totalmente contra as
bandeiras que o PT defendeu e está a defender.
DF –
Espaço para suas considerações finais.
AC –
Estamos aqui dialogando e vamos continuar dialogando com as comunidades. Nesses
quatro meses a percorrer o estado todo. Eu vou voltar aqui novamente em
Petrolândia. Quando venho aqui sempre tenho o apoio do companheiro Rômulo
Pedrosa (presidente municipal do PSOL), que nos acolhe e relata os problemas
daqui, assim como Miguel. Então vamos vir sempre.
Aqui também pudemos observar o problema das
comunidades do Bem Querer, com uma reintegração de posse sem negociação e
diálogo, uma questão de direitos humanos que também estaremos levando para
conhecimento das autoridades competentes.
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