Imagem: Ministério da Saúde |
Três meses após a entrada no Programa Mais
Médicos, cerca de 15% dos médicos brasileiros que se apresentaram para
substituir os profissionais cubanos, deixaram seus postos de trabalho.
Os dados divulgados em reportagem da Folha de S. Paulo desta quinta-feira (4) são parte do cenário que já tinha
sido previsto por médicos da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP). “Tem
uma semelhança de outros momentos, mas o fato de ter tido um percentual maior
de desistências está relacionado ao fato que as vagas que foram ofertadas nesse
momento foram nas áreas onde estavam os cubanos, cidades mais pobres, que
nitidamente os brasileiros não querem ir”, explicou o
ex-coordenador do Programa Mais Médicos durante o governo Dilma, o médico Felipe Proenço.
Em entrevista em fevereiro deste ano ao Saúde
Popular, Proenço chegou a prever que a taxa de abandono dos novos contratados
poderia chegar a 10%.
De acordo com os dados divulgados pela Folha,
ao menos 1.052 médicos – dos 7.120 brasileiros
que assumiram as vagas deixadas pelo fim do convênio com a Organização
Pan-americana de Saúde (Opas) – já desistiram
dos postos nesses três meses do ano.
Há dois meses, o Ministério da Saúde informou
que o Mais Médicos seria encerrado, mesmo sem ter divulgado o balanço total das
adesões do último edital.
Segundo o ministério, o tempo médio de
permanência dos dois primeiros grupos de profissionais variou de uma semana a
três meses. Os principais motivos relatados aos municípios para a saída foram a
busca por outros locais de trabalho e por cursos de especialização e de
residência médica.
Na opinião de Proenço, o número de
desistências ainda pode aumentar. “As
residências chamam até o dia 1º de abril. Ao longo do mês de março também podem
ter ocorrido novas desistências”.
O médico pontua ainda um grande número de
postos ociosos, mesmo antes da saída dos profissionais cubanos, estimado em
2000 postos, “o que estaria gerando
uma desassistência muito importante nas pequenas cidades, nas mais vulneráveis”,
afirma.
Um terceiro elemento, destaca Proenço, é que
o Ministério da Saúde não tem renovado a participação de médicos, seja
brasileiro ou formado no exterior, nas grandes cidades e regiões
metropolitanas, causando desamparo nas periferias das grandes cidades.
“Não
temos clareza de nenhuma proposta para conseguir prover e reter profissionais
nessas localidades e certamente milhões de pessoas estão deixando de ser
atendidas. Tudo isso está causando um impacto muito danoso na saúde da
população brasileira, principalmente na população mais pobre e mais
vulnerável”.
Os registros de saídas sobrecarregam e
preocupam os municípios, e o governo ainda não indicou a reposição das vagas.
Fonte: Brasil
de Fato
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