Imagem: Mateus Bonomi /AGIF (via AP) |
O site The Intercept publicou novas
mensagens que mostram esquema de corrupção do parlamentar Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz descoberto, mas "abafado" para não ter problemas com o presidente Jair Bolsonaro.
Em chats secretos, Deltan
Dallagnol, coordenador da operação Lava Jato, concordou com a avaliação de
procuradores do Ministério Público Federal de que Flávio Bolsonaro mantinha um
esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual no Rio de
Janeiro. Segundo os procuradores, o esquema, operado pelo assessor Fabrício
Queiroz, seria similar a outros escândalos em que deputados estaduais foram
acusados de empregar funcionários fantasmas e recolher parte do salário como
contrapartida.
Imagem:Pedro Ladeira/Folhapress |
Dallagnol disse que o hoje senador pelo PSL Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, “certamente”
seria implicado no esquema. O procurador, no entanto, demonstrou uma
preocupação: ele temia que Moro não perseguisse a investigação por pressões
políticas do então recém eleito presidente Jair
Bolsonaro e pelo desejo do juiz de ser indicado para o Supremo Tribunal
Federal, o STF. Até hoje, como presumia Dallagnol, não há indícios de que Moro,
que na época das conversas já havia deixado a 13ª Vara Federal de Curitiba e
aceitado o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, tenha
tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasmas que
Flávio é acusado de manter e suas ligações com poderosas milícias do Rio de
Janeiro.
O escândalo envolvendo Flávio, que vinha
dominando as manchetes, desapareceu da mídia nos últimos meses. A investigação,
nas mãos do Ministério Público do Rio, parece ter entrado em um ritmo bem mais
lento do que o esperado para um caso dessa gravidade. Moro tampouco dá sinais
de que está interessado nas ramificações federais do caso – como o suposto
empréstimo de Queiroz para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Nas poucas
vezes em que respondeu a questionamentos sobre a situação do filho do
presidente, ele repetiu que “não há nada conclusivo sobre o caso Queiroz” e que
o governo não pretende interferir no trabalho dos promotores. Entretanto, o
caso voltou aos noticiários na segunda-feira, 15 de julho, quando o presidente
do STF, Dias Toffoli, atendeu ao pedido de Flávio Bolsonaro e suspendeu as
investigações iniciadas sem aprovação judicial envolvendo o uso dos dados do
Coaf, órgão do Ministério da Economia que monitora transações financeiras para
prevenir crimes de lavagem de dinheiro.
No dia 8 de dezembro de 2018, Dallagnol
postou num grupo de chat no Telegram chamado Filhos do Januario 3, composto de
procuradores da Lava Jato, o link para um reportagem no UOL sobre um depósito
de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle
Bolsonaro. Segundo o texto, a “transação foi apontada como “atípica” pelo Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e anexado a uma investigação
do Ministério Público Federal, na Lava Jato”. “Queiroz
movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A comunicação
do Coaf não comprova irregularidades, mas indica que os valores movimentados
são incompatíveis com o patrimônio e atividade econômica do ex-assessor”,
escreve o UOL.
A notícia levou Dallagnol a pedir a opinião
dos colegas sobre os desdobramentos do caso, e sobre como seria a reação de
Moro. A procuradora Jerusa Viecilli,
crítica da aproximação de Moro com o governo Bolsonaro, respondeu “Falo nada …
Só observo 👀”.
Dallagnol manifestou sérias preocupações com a forma que o ministro da Justiça
conduziria o caso, sugerindo que o ex-juiz poderia ser leniente com Flávio,
seja por limites impostos pelo presidente ou pela intenção de Moro de não pôr
em risco sua indicação ao Supremo: “É
óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, digitou o procurador. “Seja como for, presidente não vai
afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”,
escreveu. Dallagnol completou, sobre o presidente: “Agora,
o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupção se o filho dele vai sentir a
pauta na pele?”
8 de dezembro de 2018 – grupo Filhos do Januário
3
A força-tarefa da Lava Jato e os procuradores
citados no texto foram procurados para comentários, mas não responderam até a
publicação da reportagem pelo The Intercept.
A situação de Moro – como investigar um caso
de corrupção envolvendo o filho do presidente que o indicou ao cargo, ou, ainda
corrupção envolvendo o próprio presidente e seus familiares? – levou Deltan a
considerar evitar entrevistas sobre foro privilegiado por temer perguntas sobre
o caso envolvendo Flávio.
Uma enorme coleção de materiais nunca
revelados fornece um olhar sem precedentes sobre as operações da força-tarefa
anticorrupção que transformou a política brasileira e conquistou a atenção do
mundo.
Fonte:
The Intercept
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