Fotos: Daniel Filho |
Eis o tema da palestra que a frente popular
política, apresentada como alternativa às pré-candidaturas lançadas até aqui,
vem levando semanalmente às comunidades de Petrolândia. Com uma mesa cuja
composição se alternará a cada encontro as falas são divididas pela cronologia
da cidade: Passado, rememorando as qualidades e estilo de vida da antiga
Petrolândia; análise do que foi perdido na última década e suas consequências
para nossa situação presente e encerra com um vislumbre do que a cidade pode
vir a ser adotando um modelo de gestão política participativa e verdadeiramente
democrática.
Moradores da Agrovila 1 do Assentamento
Antônio Conselheiro interagiram com o formato. Intervenções com lembranças da
cidade que cresceram, desabafos de todo o sofrimento oriundo da transposição de
uma cidade para outra, assim como das perdas sociais e econômicas sofridas nos
últimos dez anos, além de concordarem que a forma de se fazer política em
Petrolândia precisa de um novo rumo.
A abertura foi feita pelo violonista Miguel. Entoando
canções que ilustram profundamente a situação política que passamos no
município. Paciência, de Lenine,
questiona aos presentes se ainda temos tempo a perder:
Será que é tempo que lhe falta pra
perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara
Saia
do Meu Caminho, de Belchior, avisa aos velhos cacoetes
políticos:
Saia do meu caminho
Eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida
A minha vida
Admirável
Gado Novo, de Zé Ramalho, inspira a revisão de nossa
trajetória cidadã até aqui:
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Terminada a bela e simbólica abertura, a
professora e presidente do Sindicato dos Servidores de Petrolândia (SINSEMP), Adriana de Araújo, fez um emocionante resgate da antiga
Petrolândia. Sua geografia, suas especificidades culturais e econômicas cativaram
a memória de parte da comunidade presente que fez parte de toda aquela
história: “Discordo quando dizem
que Petrolândia não teria evoluído economicamente caso não houvesse a
construção da barragem. Sempre tivemos como força nossa agricultura e como
fraqueza a ausência de políticas públicas sérias que incentivasse os produtores
(...) Em nome do que chamam de progresso vimos ser inundada toda uma história
de lutas e conquistas.”
Deu destaque ao alto índice
de suicídio da cidade. De forma poética associou esse triste índice à transição
dos moradores à nova cidade: “Quando
arrancamos uma muda de planta jovem, ela consegue se adaptar em novo solo e se
desenvolve. Uma árvore adulta, com raízes profundas, porém, sofrerá bem mais
para conseguir a readaptação. Com nossos idosos aconteceu isso. Na transição da
cidade muito vieram a falecer em pouco tempo por desgosto... Por terem perdido
suas raízes originais em uma terra que aprenderam a amar.”
Natanael
Caetano, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e coordenador do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais (STR) deu
continuidade à explanação mostrando o quanto perdemos em qualidade de vida desde
a chegada do chamado “progresso”: “De que adianta progredir
economicamente se não podemos usufruir do progresso? Um hectare de terra para cada
agricultor voltada a uma produção familiar nos daria sustento e qualidade de vida,
mas, temos esse acesso? E quando temos conseguimos apoio da gestão no sentido
de nos garantir condições de produção?”
Destacou ainda os diversos retrocessos na última
década: “Na cultura tínhamos apresentações
de pastoril, uma banda marcial, cinema, biblioteca pública... Hoje não resta
nada relacionado a lazer e bem estar para nós.”
Rômulo Pedrosa, presidente do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL) ficou
responsável pelo vislumbrar de um futuro mais justo socialmente e
economicamente sustentável: “Defendemos
o orçamento participativo como melhor forma de gerir o recurso público. Esse
mecanismo permite a setores organizados da sociedade decidir, através do voto,
como será aplicada parte das verbas públicas municipais em áreas como
transportes, saúde e saneamento, entre outras. Esse modelo não é novidade e vem
sendo implantado em diversas cidades com sucesso. Compreendemos que nada mais
justo que os usuários dos serviços públicos cuidarem do que é público. E nada
mais democrático que apresentar e construir um plano inicial para, somente
depois, em conjunto, decidirmos pelos nomes que irão defender uma candidatura
de cunho popular (...) A próxima prefeita ou prefeito de Petrolândia pode estar
aqui entre nós, pois nesse grupo, a qual faço parte, não há imposição de nomes
de cima pra baixo. Aqui a construção é coletiva e convidamos vocês a construírem
com a gente.”
A sequência do encontro se deu com as falas
dos participantes:
“Já
trabalhei como engraxate, vendedor de picolé e não acho indigno. Todo serviço é
digno. O que acho indigno é ter dez hectares de terra e ter que vender picolé
por não ter condições de produzir. Isso é indigno.”
Falou o jovem Auricélio. “Quando
conheci esse grupo renovei minha esperança na política por causa da postura de
todos eles. Eu acredito e peço a todos vocês que acreditem nesse grupo porque
eles não vieram aqui empurrar um candidato, eles vieram nos apresentar uma
ideia.”
Foram lembrados ainda os sofrimentos dos
residentes oriundos da eterna e inconsequente disputa de territórios entre os
gestores dos municípios de Tacaratu e Petrolândia que não aponta para uma resolução.
Falta de transporte escolar para as crianças e jovens da área, cobrança indevida
de taxa de iluminação pública (alguns chegam a pagar R$15 reais por um
serviço inexistente), dificuldades no acesso à água
potável, escassez de serviços sociais básicos foram pontos lembrados e
discutidos.
A frente política popular, formada pelos
partidos PT e PSOL junto a movimentos sociais como o Movimento dos Sem Terra (MST) e presidentes de associações de
assentamentos diversos, conduzirá de forma itinerante essa roda de conversa
política a percorrer as principais comunidades da cidade para materialização do
plano de governo, filiações de futuros pré-candidatos e escolha dos nomes para
disputa do pleito.
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