segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

PETROLÂNDIA: A CIDADE QUE FOMOS, QUE SOMOS E QUE PODEMOS SER

Fotos: Daniel Filho

Eis o tema da palestra que a frente popular política, apresentada como alternativa às pré-candidaturas lançadas até aqui, vem levando semanalmente às comunidades de Petrolândia. Com uma mesa cuja composição se alternará a cada encontro as falas são divididas pela cronologia da cidade: Passado, rememorando as qualidades e estilo de vida da antiga Petrolândia; análise do que foi perdido na última década e suas consequências para nossa situação presente e encerra com um vislumbre do que a cidade pode vir a ser adotando um modelo de gestão política participativa e verdadeiramente democrática.
Moradores da Agrovila 1 do Assentamento Antônio Conselheiro interagiram com o formato. Intervenções com lembranças da cidade que cresceram, desabafos de todo o sofrimento oriundo da transposição de uma cidade para outra, assim como das perdas sociais e econômicas sofridas nos últimos dez anos, além de concordarem que a forma de se fazer política em Petrolândia precisa de um novo rumo.
A abertura foi feita pelo violonista Miguel. Entoando canções que ilustram profundamente a situação política que passamos no município. Paciência, de Lenine, questiona aos presentes se ainda temos tempo a perder:

Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara

Saia do Meu Caminho, de Belchior, avisa aos velhos cacoetes políticos:

Saia do meu caminho
Eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida
A minha vida

Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho, inspira a revisão de nossa trajetória cidadã até aqui:

É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Terminada a bela e simbólica abertura, a professora e presidente do Sindicato dos Servidores de Petrolândia (SINSEMP), Adriana de Araújo, fez um emocionante resgate da antiga Petrolândia. Sua geografia, suas especificidades culturais e econômicas cativaram a memória de parte da comunidade presente que fez parte de toda aquela história: “Discordo quando dizem que Petrolândia não teria evoluído economicamente caso não houvesse a construção da barragem. Sempre tivemos como força nossa agricultura e como fraqueza a ausência de políticas públicas sérias que incentivasse os produtores (...) Em nome do que chamam de progresso vimos ser inundada toda uma história de lutas e conquistas.” 
Deu destaque ao alto índice de suicídio da cidade. De forma poética associou esse triste índice à transição dos moradores à nova cidade: “Quando arrancamos uma muda de planta jovem, ela consegue se adaptar em novo solo e se desenvolve. Uma árvore adulta, com raízes profundas, porém, sofrerá bem mais para conseguir a readaptação. Com nossos idosos aconteceu isso. Na transição da cidade muito vieram a falecer em pouco tempo por desgosto... Por terem perdido suas raízes originais em uma terra que aprenderam a amar.”
Natanael Caetano, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) deu continuidade à explanação mostrando o quanto perdemos em qualidade de vida desde a chegada do chamado “progresso”: “De que adianta progredir economicamente se não podemos usufruir do progresso? Um hectare de terra para cada agricultor voltada a uma produção familiar nos daria sustento e qualidade de vida, mas, temos esse acesso? E quando temos conseguimos apoio da gestão no sentido de nos garantir condições de produção?”
Destacou ainda os diversos retrocessos na última década: “Na cultura tínhamos apresentações de pastoril, uma banda marcial, cinema, biblioteca pública... Hoje não resta nada relacionado a lazer e bem estar para nós.”
Rômulo Pedrosa, presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ficou responsável pelo vislumbrar de um futuro mais justo socialmente e economicamente sustentável: “Defendemos o orçamento participativo como melhor forma de gerir o recurso público. Esse mecanismo permite a setores organizados da sociedade decidir, através do voto, como será aplicada parte das verbas públicas municipais em áreas como transportes, saúde e saneamento, entre outras. Esse modelo não é novidade e vem sendo implantado em diversas cidades com sucesso. Compreendemos que nada mais justo que os usuários dos serviços públicos cuidarem do que é público. E nada mais democrático que apresentar e construir um plano inicial para, somente depois, em conjunto, decidirmos pelos nomes que irão defender uma candidatura de cunho popular (...) A próxima prefeita ou prefeito de Petrolândia pode estar aqui entre nós, pois nesse grupo, a qual faço parte, não há imposição de nomes de cima pra baixo. Aqui a construção é coletiva e convidamos vocês a construírem com a gente.”
A sequência do encontro se deu com as falas dos participantes:
“Já trabalhei como engraxate, vendedor de picolé e não acho indigno. Todo serviço é digno. O que acho indigno é ter dez hectares de terra e ter que vender picolé por não ter condições de produzir. Isso é indigno.” Falou o jovem Auricélio. “Quando conheci esse grupo renovei minha esperança na política por causa da postura de todos eles. Eu acredito e peço a todos vocês que acreditem nesse grupo porque eles não vieram aqui empurrar um candidato, eles vieram nos apresentar uma ideia.”
Foram lembrados ainda os sofrimentos dos residentes oriundos da eterna e inconsequente disputa de territórios entre os gestores dos municípios de Tacaratu e Petrolândia que não aponta para uma resolução. Falta de transporte escolar para as crianças e jovens da área, cobrança indevida de taxa de iluminação pública (alguns chegam a pagar R$15 reais por um serviço inexistente), dificuldades no acesso à água potável, escassez de serviços sociais básicos foram pontos lembrados e discutidos.
A frente política popular, formada pelos partidos PT e PSOL junto a movimentos sociais como o Movimento dos Sem Terra (MST) e presidentes de associações de assentamentos diversos, conduzirá de forma itinerante essa roda de conversa política a percorrer as principais comunidades da cidade para materialização do plano de governo, filiações de futuros pré-candidatos e escolha dos nomes para disputa do pleito.  






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