Imagem: Paraná OnLine |
Artigo de opinião por Francis Rubens
Nos últimos anos a economia se tornou
protagonista nas discussões em redes sociais, muito por causa de uma militância
de direita inspiradas por teorias de Escola Austríaca. Muitos jargões são
utilizados para ilustrar virtudes da ordem capitalista e a defesa de um mercado
livre de regulação. Maioria dos adeptos dessa ideologia economicista colocam
seus autores favoritos como pessoas que refutaram Marx e até mesmo Keynes.
Mas quem diria que os mesmos, que
teriam refutado dois dos pensadores mais influentes da história recente, iriam
ser refutados por um grupo de caminhoneiros? Pois é, trabalhadores sem títulos
acadêmicos estão refutando argumentos atribuídos a grandes pensadores. Em meio
a uma greve de caminhoneiros estamos vendo postos elevando abusivamente preços
de combustível, ou seja, donos do capital usando a escassez para acumular
riqueza (tese bem conhecida entre os marxistas).
É claro que continua sendo verdade que
o mercado tende naturalmente ao equilíbrio. O interessante é que o momento dá
uma visão melhor de particularidades desse equilíbrio do mercado quanto à
oferta e demanda. A primeira característica que fica evidente é como esse
equilíbrio pode ser desmontado quando temos uma vontade de um grupo, quem ter
poder, seja econômico ou de organização, pode desequilibrar para se favorecer;
como diria Chico: “eu me organizando posso desorganizar e eu desorganizando posso me
organizar”.
A segunda é ainda mais assustadora,
mostra que o mercado pode estar equilibrado em bases de extrema desigualdade social,
mas pra entender essa particularidade é preciso um pouco mais de atenção.
Suponhamos que a situação de escassez de combustível se arraste por muito
tempo, teríamos um cenário que preço, demanda e oferta se equilibrariam com a
exclusão de demanda, ou seja pessoas simplesmente não poderiam mais comprar o
produto. Quando temos essa percepção aliada com a noção de que os mercados não
são sistemas fechados, no caso do mercado em questão existe a relação direta
com preços de outros mercados. Imagine o mercado de alimentos se equilibrando
com base na exclusão de demanda, o resultado seria simplesmente pessoas
subnutridas num mercado equilibrado.
O livre mercado também não é algo a
ser demonizado, sistemas com pouca regulação ou até mesmo nenhuma podem sim andar
junto com condições de igualdade social, mas pra isso é preciso que exista
antes uma estrutura sócio-cultural bem sólida e fundamentada, e é exatamente o
que não temos no Brasil. O que precisa
ser entendido por apaixonados por segmentos da economia é que ela é uma meio e
não um fim. É apenas uma ferramenta para prover informações à administração e
não o fator mais essencial da gestão, é preciso que se entenda que na gestão
pública o importante é usar tais ferramentas para atender as necessidades do povo.
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