quinta-feira, 24 de maio de 2018

CAMINHONEIROS E O LIVRE MERCADO

Imagem: Paraná OnLine


Artigo de opinião por Francis Rubens

Nos últimos anos a economia se tornou protagonista nas discussões em redes sociais, muito por causa de uma militância de direita inspiradas por teorias de Escola Austríaca. Muitos jargões são utilizados para ilustrar virtudes da ordem capitalista e a defesa de um mercado livre de regulação. Maioria dos adeptos dessa ideologia economicista colocam seus autores favoritos como pessoas que refutaram Marx e até mesmo Keynes.
Mas quem diria que os mesmos, que teriam refutado dois dos pensadores mais influentes da história recente, iriam ser refutados por um grupo de caminhoneiros? Pois é, trabalhadores sem títulos acadêmicos estão refutando argumentos atribuídos a grandes pensadores. Em meio a uma greve de caminhoneiros estamos vendo postos elevando abusivamente preços de combustível, ou seja, donos do capital usando a escassez para acumular riqueza (tese bem conhecida entre os marxistas).
É claro que continua sendo verdade que o mercado tende naturalmente ao equilíbrio. O interessante é que o momento dá uma visão melhor de particularidades desse equilíbrio do mercado quanto à oferta e demanda. A primeira característica que fica evidente é como esse equilíbrio pode ser desmontado quando temos uma vontade de um grupo, quem ter poder, seja econômico ou de organização, pode desequilibrar para se favorecer; como diria Chico: “eu me organizando posso desorganizar e eu desorganizando posso me organizar”.
A segunda é ainda mais assustadora, mostra que o mercado pode estar equilibrado em bases de extrema desigualdade social, mas pra entender essa particularidade é preciso um pouco mais de atenção. Suponhamos que a situação de escassez de combustível se arraste por muito tempo, teríamos um cenário que preço, demanda e oferta se equilibrariam com a exclusão de demanda, ou seja pessoas simplesmente não poderiam mais comprar o produto. Quando temos essa percepção aliada com a noção de que os mercados não são sistemas fechados, no caso do mercado em questão existe a relação direta com preços de outros mercados. Imagine o mercado de alimentos se equilibrando com base na exclusão de demanda, o resultado seria simplesmente pessoas subnutridas num mercado equilibrado.
O livre mercado também não é algo a ser demonizado, sistemas com pouca regulação ou até mesmo nenhuma podem sim andar junto com condições de igualdade social, mas pra isso é preciso que exista antes uma estrutura sócio-cultural bem sólida e fundamentada, e é exatamente o que não temos no Brasil.  O que precisa ser entendido por apaixonados por segmentos da economia é que ela é uma meio e não um fim. É apenas uma ferramenta para prover informações à administração e não o fator mais essencial da gestão, é preciso que se entenda que na gestão pública o importante é usar tais ferramentas para atender as necessidades do povo.
 

Francis Rubens é escriturário do
Banco do Brasil


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