Imagem: Tutameia |
O ex-ministro de Lula, líder estudantil,
militante da luta armada e da redemocratização, está lançando “Zé
Dirceu, Memórias, Volume I”, José Dirceu, concedeu entrevista exclusiva
ao Blog Tutameia. Nesta entrevista,
ele fala de Lula, da direita, das eleições, dos processos contra ele, das
condenações, de como foi execrado e isolado, de mídia, de erros e acertos dos
governos petistas. E do livro de memórias que está lançando agora.
O Blog
Gota D’Água reproduz trechos e disponibiliza link para assistir na íntegra:
“O país está muito tensionado. Foi se
introduzindo aqui um ódio, uma violência. O país precisa encontrar uma forma de
consenso para retomar uma senda, um caminho do desenvolvimento nacional, da
soberania, da diminuição das desigualdades; não um desenvolvimento só para uma
classe. Precisamos procurar isso na democracia e evitar os riscos do
autoritarismo. Faço um chamamento à resistência, à luta. Não acredito em
mudança sem luta social (...) Sou otimista porque a força do Lula como
liderança e a base eleitoral e social que o PT reconquistou me dão esperança.
Utopia é esperança. A minha utopia é que o Brasil reencontre o seu caminho.
Porque o fio da história do Brasil é outro, não é o desse governo”.
Declarou.
Dirceu
classifica o atual governo como um “desastre em todos os sentidos para o país”.
Primeiro, diz, “apequenou o Brasil no mundo, alinhando-o à política do Departamento de
Estado dos EUA”. Além disso, há o ”desmonte das conquistas sociais. A reforma
trabalhista vai ter consequências gravíssimas; vai ter luta sindical e popular
grande”.
SOCIEDADE
VAI SANGRAR
Segundo Dirceu, o protesto dos caminhoneiros
foi só um exemplo. “Querem o trabalhador trabalhar um terço a mais e ganhar um terço a
menos. Não reduziram os juros, não resolveram problemas de infraestrutura, o
tributário. O país vai explodir. Já está explodindo na violência”.
Para ele, o balanço do governo Temer é muito
ruim, “pois colocou o país em risco de tensionamento”. E afirma que, se a
resistência ao golpe tivesse sido maior. “Eles iriam dar [o golpe] pela força.
É que nós não resistimos”.
Nesse quadro, como será o governo numa
eventual vitória do PT? Vai ser possível governar? Dirceu responde:
“Governar vai ser uma luta. Não vai ser matar um leão por dia. Vai ser uma
guerra. A direita e a centro-direita já mostram que não aceitam uma vitória do
PT. Não sei se aceitarão essa. Se perdermos, vamos para a oposição democrática.
Nossa prioridade é frente de massas, a organização popular. A sociedade
brasileira, infelizmente, vai sangrar. As contradições são muito profundas e
eles querem impor à sociedade brasileira um modelo econômico que ela não vai
aceitar”.
TINHAM
VERGONHA DE CHEGAR PERTO DE MIM
Dirceu concorda com a avaliação de que o PT
se burocratizou no poder, o que dificultou a mobilização contra o impeachment e
em defesa da democracia. Mas ressalta a “base extraordinária de militante”.
Na sua avaliação: “Quase que nós levamos o golpe sem resistência e somos humilhados. Nós
fomos cuspidos, espancados, nossa bandeira foi rasgada. Fomos expulsos das
ruas. E nós retomamos agora. Houve um momento em que parecia que o PT tinha se
esvaziado. O que está acontecendo hoje mostra que não só o PT tem uma base
eleitoral e social sólida, como tem uma militância muito grande”.
Dirceu fala dos processos, das condenações e
do fato de ter sido execrado e isolado até por seus pares:
“Ninguém se interessou em ler o
processo. O partido não teve uma estratégia de defesa, nem uma avaliação do que
era aquilo. Foi simplesmente o seguinte: nós não podemos ficar contra o combate
à corrupção, ou então, ‘o problema Zé Dirceu é da Câmara. O Zé Dirceu não pode
continuar criando esse problema para nós”.
Dirceu destaca o apoio que obteve da
militância e avalia que o caso “foi muito usado para a luta interna no PT”,
para liquidar o seu papel no PT. “Foi uma coisa triste, grotesca”. E
relata:
“Houve um momento muito duro para mim.
Eu fui a uma reunião na sede do PT e fiquei sentado num canto, como se eu nunca
tivesse ido a uma reunião no PT. Fui tratado assim por uma parcela grande.
Outros tinham vergonha ou medo de chegar perto de mim. Mas é que eu já vim de
outras guerras, de outros combates. A minha vida já foi reconstruída do zero
várias vezes, não foi só dessa vez. Eu tive também solidariedade e o apoio”.
O PT
ERROU NA QUESTÃO DA MÍDIA
Perguntamos sobre um diálogo atribuído a ele,
em que, no Planalto, ele teria dito que o PT não precisava construir a sua
mídia, pois tinha o apoio da Globo. Dirceu nega essa versão. Fala de tentativas
do governo de redistribuir verbas publicitárias, de projetos para o setor. “Os
governos dependem de circunstâncias. Houve uma tentativa pessimamente
encaminhada. Recuamos na hora errada. O PT errou na questão da mídia. O que
estamos assistindo no Brasil é um misto de controle da informação que virou
formação. Dão opinião sobre a notícia, sem contraditório, diversidade (...)
O
monopólio passa a ser danosos para a sociedade, não para o PT, porque o PT se
defende”.
Segundo ele, os erros aconteceram porque
havia muitas frentes de problemas. “Era uma avalanche sobre nós. E deixamos os
enfrentamentos de lado”. Hoje, ele defende uma “reforma nos meios de
comunicação, que não pode ser entendida como censura ou controle”.
GOLPE
NORTE-AMERICANO
Perguntamos a Dirceu porque seu livro
praticamente ignora a ação estrangeira no golpe de 2016. Houve ação externa? Em
alguma medida o golpe foi feito de acordo com interesses norte-americanos? É um
golpe norte-americano?
“Foi e é”,
responde ele. Fala, então do pré-sal, da Base de Alcântara. E de Forças
Armadas: “O país precisa de Forças Armadas de novo tipo. Eu sinto as Forças
Armadas escorregando para os norte-americanos, por Lava Jato e para essa
coalizão de direita. Existe a questão da intervenção norte-americana, dos
interesses estratégicos. O objetivo do golpe era alinhar o Brasil à política
dos EUA”. E completa:
“Estou devendo uma análise do golpe.
Temos que aprender com nossos erros e não repeti-los”.
Assista completo em:
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