Imagem: Roberto Stuckert Filho |
Para além do aprovar ou rejeitar um modelo de gestão, uma figura política, está a motivação e a natureza das críticas. Você critica um modelo de gestão com base em dados, fundamentos ou opta por ataques pejorativos como: puta, louca, anta?
É o que trabalha a tese de doutorado realizada
por Perla Haydee da Silva, da
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
Defendida no fim do segundo semestre do ano passado, a tese avaliou as
construções discursivas contra a petista durante o impeachment.
Haydee analisou cerca de 3 mil comentários direcionados à presidenta na página do Movimento
Brasil Livre (MBL) no Facebook. Quatro
termos giravam em torno deles: Louca,
burra, prostituta e nojenta.
Segundo a especialista, os comentários ofensivos revelam uma sociedade
machista, que objetiva excluir as mulheres dos espaços públicos e de poder.
“Esses discursos que associam a mulher a um
estereótipo de loucura, burrice ou devassidão moral, se repetem. Não foi uma
exclusividade com a ex-presidenta. É histórico esse processo de deslegitimar a
opinião de uma mulher e o comportamento feminino”, afirma Haydee.
“Nessa lógica, a mulher serve apenas para
cozinhar, para pilotar fogão. Se repete em muitos comentários: 'Dilma, vai pra
casa'. 'Vai lavar roupa'. 'Vai vender Jequiti'. Sempre associando a imagem da
mulher a um espaço doméstico. Ela não é capaz de estar em um cargo de poder ou
de mando, tem que estar em casa. Ela é para esse espaço e o homem que ocupe o
espaço público”, acrescenta.
A pesquisa também mostra como a competência das
mulheres é muito mais questionada. Além disso, expõe como os possíveis erros cometidos
por Dilma foram e ainda são julgados de forma mais perversa.
O livro Dilmês
- O idioma da mulher sapiens, de autoria de Celso Arnaldo Araújo, é
citado na tese como exemplo. A obra esmiúça discursos da ex-presidenta de forma
pejorativa.
Na opinião de Haydee, no entanto, a crítica é
bem mais atenuada em relação aos homens. “O Bolsonaro comete vários deslizes
linguísticos e não é tão cobrado, não é associado ao estereótipo da burrice,
como era feito e ainda é feito em respeito a Dilma. Esse discurso até hoje se
repete. O ‘Dilmês’, a questão das pérolas da Dilma, da ‘Dilmanta’… Ela sendo
descreditada, associada ao risível”.
De acordo com a tese, feita à luz das teorias
de autores consagrados como Michel
Foucault e Judith Butler, as
ofensas contra a então presidenta – xingada de “puta” inúmeras vezes –
evidenciam a imposição de uma moral sexual.
A tese conclui ainda que a representação
degradante da ex-presidenta, seja por comentários ou imagens, coloca em
evidência percepções machistas que sustentam um julgamento moral que atinge
todas as mulheres.
Fonte:
Brasil de Fato
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