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Imagens: reprodução |
O ensino híbrido, ou blended learning, consiste
em professoras e professores como moderadores de um processo de aprendizagem
cujo principal estímulo é a interação interpessoal e formação da autonomia para
que estudantes encontrem e conduzam seu próprio método de pesquisa, tanto de
forma presencial quanto virtual, essa mescla justifica o termo inglês “blend”
que significa mistura.
Uma necessária etapa de evolução do ensino,
mas o resgate desse tema em tempo de isolamento social oriunda da pandemia pode
encobrir intenções e riscos?
Com o necessário isolamento social as aulas
remotas foram postas no colo da comunidade escolar numa realidade onde uma
grande parcela de docentes e discentes não tem pleno acesso a notebooks e
internet. O primeiro de muitos “hibridismos” impostos.
Esse artigo não visa criticar o conceito que,
por sinal, é necessário a uma educação de qualidade, mas provocar a reflexão:
temos unidades de ensino com estrutura física e tecnológica para o século XXI?
O quanto retomar esse debate pode se converter em perda de direitos, logo,
retrocesso, em vez de evolução no processo de ensino-aprendizagem?
PROFISSIONAIS
HÍBRIDOS
Soa inerente ao profissional da educação essa
condição híbrida. Da sua formação aos anos de exercício da profissão vê a
necessidade de mesclar teoria, prática, tendências, conceitos... Políticas
públicas e determinações de governos, muitas vezes são jogadas abruptamente,
com pouca ou nenhuma discussão de base, na vida do profissional e, aos mesmos,
o “tapinha nas costas” com o dizer: “Você
é capaz, professora/professor!”
Mas se trata de capacidade ou desrespeito? Mudanças
que visam melhoria do ensino público ou assédio e precarização do trabalho? Em
Pernambuco podemos ilustrar com alguns exemplos de como se dão essas rupturas e
suas rápidas readaptações à realidade das comunidades escolares.
AVALIAÇÃO
Em Pernambuco a avaliação escolar deixou de
ser feita por nota (0 a 10) para ser conceito (DC = Desempenho construído, DEC = Desempenho em Construção, DNC = Desempenho Não Construído) e,
pouco depois voltar a ser nota. Isso falando das avaliações internas, mas
surgiram ainda as avaliações externas, SAEPE,
SAEB, são as principais.
Bonificações para unidades de ensino que atinjam metas foram implantadas e o
conflito se instala: educação para construção de aprendizagem e autonomia ou
para competição?
Há formações acerca do tema avaliação, mas,
na prática, ainda estamos longe de um modelo avaliativo diagnóstico e inclusivo.
ACOMPANHAMENTO
INDIVIDUALIZADO
O diário escolar que registra a vida escolar
de estudantes já foi impresso, quase sempre entregue com atraso forçando
professoras e professores a ter trabalho duplo (anotar em caderno para, depois,
reescrever quando os diários chegavam). Depois foi modificado para o Sistema de
Informações da Educação de Pernambuco (SIEPE).
Informatizado, visou a melhoria, mas não veio junto com acesso à internet de
qualidade e notebooks, tablets, aos profissionais da educação (administrativos
e pedagógicos) ou mesmo formação continuada para explicar o sistema. Muitos
profissionais tiveram que pagar para trabalhar, fazer cota para ter internet de
qualidade e, assim, conseguir abastecer o sistema. Muitos têm trabalho duplo,
pois quando o acesso é ruim na sala, precisa anotar para, somente então,
incluir no sistema. Nas escolas que não têm o acesso, profissionais levam seu
trabalho para casa.
ESCOLA
INTEGRAL
O tema sempre foi muito debatido e Pernambuco
se destaca pela ampliação do modelo. Um período estendido dentro da escola é
visto como garantia de direito e prometia uma melhor condição trabalhista ao
profissional que poderia ter melhoria salarial considerável, em caso de dois
vínculos ter as duas matrículas em um mesmo local de trabalho, além de um tempo
maior dentro da escola para planejamento, formação e avaliação o que, em tese,
deveria impedir uma terceira jornada em casa.
Na prática a gratificação está congelada a um
teto, perdendo seu poder de valorização que teve no início, não poderá ser
levada para a aposentadoria, no entanto sempre teve descontos previdenciários
e, por todos problemas citados referentes à avaliação e sistema de informações,
o terceiro turno em casa se tornou inevitável.
Muitas professoras e professores, ainda, não
conseguiram manter suas matrículas no mesmo local de trabalho e a jornada de
trabalho é exaustiva.
Estruturalmente muitas escolas não viram
mudança para uma adequação a uma jornada diária de nove horas. Quadras
poliesportivas sem cobertura (quando a escola tem quadra), refeitório e espaços
de aprendizagem inadequados, banheiros com problemas, salas sem climatização...
Um modelo de educação que deveria ser referência e desejada para todas e todos
continua a enfrentar desafios e desigualdades gritantes.
Profissionais da educação e estudantes se
veem, mais uma vez, a “mesclar” promessa, tese e realidade.
PANDEMIA
E AULAS REMOTAS
Com a pandemia, isolamento social, a cobrança
aumentou e o conceito de educação híbrida voltou à tona. Não há nenhuma
condição de retorno às aulas sem vacina por todos os problemas estruturais já
citados. Para garantir aulas remotas a uma pequena parcela de estudantes,
professoras e professores se desdobram para adaptar conteúdo, prática e
condições de trabalho. Não chegando a todas e todos, fica a disputa da
validação ou não das aulas remotas como dias letivos.
Não sendo validada, professoras e professores,
mais uma vez, acumularão trabalho. Sendo validada, estudantes que não tiveram
acesso serão prejudicados e abre caminho para uma educação à distância ser normalizada
para o pós pandemia o que torna tendenciosa a retomada do conceito “educação
híbrida”.
Retirada de direitos, precarização ainda mais
aprofundada do trabalho docente, imposição do ensino domiciliar, conhecido
também pelo termo em inglês “homeschooling”, evasão escolar, são algumas das muitas
chagas que podem estar travestidas de modernização da educação e que aprofundariam
ainda mais as já gritantes desigualdades sociais em nosso país.
Reflexão posta fica a discussão acerca do que
é ser híbrido quando o tema é educação pública de qualidade. Quando gestoras e
gestores dos recursos e políticas públicas educacionais poderão adotar uma
prática híbrida de respeito, valorização, democracia e acesso à tecnologia para
profissionais, escolas e estudantes?
VITÓRIA
DA EDUCAÇÃO COM QUEM FAZ EDUCAÇÃO
Com a promulgação da emenda constitucional
que torna o FUNDEB (Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica) permanente, com ampliação gradual do
repasse de dinheiro da União para o fundo (dos atuais 10% a 23% até 2026), a
manutenção da educação pública ganha novo fôlego.
Garantir que esses recursos se convertam em valorização
profissional, modernização das estruturas das unidades escolares e pleno acesso
a uma educação pública de qualidade se faz ouvindo quem vive e faz a educação
desse país.
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