Imagens: Divulgação |
Sabíamos, desde o início, que muitas águas
turvas rolariam na obra da Transposição de Águas do São Francisco para o
chamado Nordeste Setentrional. Aos
poucos elas vão se revelando, incluindo até mortes.
A primeira denúncia de corrupção aconteceu
quando o Exército era o responsável exclusivo por ela. Caiu no silêncio.
A segunda, na Operação Vidas Secas, em 2015,
envolveu empresas a partir da Lava-Jato na ordem de R$ 200 milhões.
Agora a terceira, na Operação Turbulência, desdobramento da Lava-Jato, fala-se no desvio
de R$ 18,8 milhões de uma
terraplanagem contratada. O detalhe é que o pagamento foi feito pela OAS e o
receptor uma empresa de um empresário citado na referida operação (ligado ao
PSB e ex-governador Campos), encontrado morto no quarto de um motel em Recife
alguns dias depois da deflagração referida operação.
O caso ficou ainda mais grave porque a
própria polícia estaria denunciando que foi proibida de fazer a perícia dessa
morte por ordem do Secretário de Segurança Pública de Pernambuco. Assuntos
secundários merecem mais destaque na mídia corporativa que essa morte suspeita.
O enredo é ainda mais complicado porque essas
corrupções aconteceram quando Fernando
Bezerra era ministro da Integração, portanto, governos Lula-Dilma e irrigando a campanha de Eduardo Campos, morto num acidente de
avião.
Quando Lula propôs a Transposição no seu
primeiro mandato, os movimentos sociais articulados do São Francisco foram
contra esse tipo de obra. Já havia a proposta do Atlas do Nordeste elaborado
pela Agência Nacional de Águas (ANA)
para fazer múltiplas obras, de porte médio, por tubulação, abastecendo
praticamente todas as cidades do Nordeste. Prevaleceu a grande obra. Hoje fica
mais claro o porquê, embora já soubéssemos o que acontecia por conversas de
bastidores.
A Transposição não está concluída. Dilma já
disse que, para cada real investido nesses grandes canais, serão necessários
dois para fazer as obras de distribuição para os municípios. Portanto, se os
canais estão na ordem de R$ 8,2 bilhões,
seriam necessários mais 16 bilhões
para que a água chegue mesmo à população.
Mas, agora o governo mudou, com apoio do PSB do Pernambuco e daquele que foi
ministro de Lula-Dilma. Ontem amigos, hoje, com o golpe, inimigos.
Qual o interesse de um governo golpista em
fazer a distribuição dessa água? Sem chances. Ela ficará concentrada nos
grandes açudes, utilizada pelos grandes empreendimentos de irrigação? Mais uma
vez o povo do Nordeste Setentrional poderá ver a grande obra, sem ver a cor da
água.
Finalmente, o São Francisco está com apenas 800
m3/s de vazão. Já falta água na bacia para seus múltiplos usos, inclusive
para a vazão ecológica, que deveria ser de 1200
m3/s. Nem sabemos quanta água teremos no rio até que ela transponha o
divisor e caia no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas, agora, há corrupção e até mortes nos
canais dessa obra.
Por caminhos tortuosos a Transposição
desaguou no golpe e o golpe na Transposição.
Por Roberto Malvezzi (Gogó)
do sertão Bahiano, às margens do rio sao
francisco. 29 junho 2016
Membro da comissão pastoral da terra-CPT
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