Imagens: Acervo |
Heitor
Scalambrini Costa, professor aposentado da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), graduado
em Física (Unicamp/SP), mestre em
Ciências e Tecnologia Nuclear (DEN/UFPE),
doutor em Energética- (CEA/Université de
Marseilhe-França), assina artigo de opinião sobre os riscos de instalação
de usinas nucleares em Pernambuco.
Uma forte ofensiva para a construção de novas
usinas nucleares do país tomou fôlego no atual governo. Principalmente pelo
fato de quem está à frente do Ministério de Minas e Energia é um almirante da
marinha brasileira, atuante na área nuclear, tendo sido coordenador do programa
Brasil e França para construção de submarinos, inclusive 2 deles movido a
energia nuclear.
Além disso, outro fator não declarado
abertamente contribuiu para esta ofensiva, o grande interesse de setores
militares-civis para que o Brasil tenha sua bomba atômica. Tecnologia não falta
ao país para construção deste artefato bélico. A questão atual para ainda não
contar com a bomba tupiniquim é de origem econômica, pois seria necessário
tornar competitiva a extração do urânio e de toda cadeia produtiva associada.
Com as 6 usinas nucleares previstas, aumentaria assim a demanda desde a
extração, as diferentes industrias envolvidas no ciclo do combustível nuclear.
Pernambuco é a bola da vez para receber em seu
território um complexo nuclear, composto por 6 usinas, com uma potência
instalada de 6.600 MW, a um custo
total de 30 bilhões de dólares. O
município “escolhido” foi o de Itacuruba
distante 470 km de Recife, na beira
do Rio São Francisco. Conhecido como
rio da Integração Nacional, banha 7
estados, beneficiando com suas águas mais de 500 municípios, com 20 milhões de nordestinos dependendo
direta ou indiretamente deste grandioso rio e de sua bacia hidrográfica.
Em Pernambuco, assim como em outros estados
nordestinos suas respectivas constituições estaduais vedam a instalação de
usinas nucleares em seu território. O que seria um impeditivo legal para esta
insanidade de nuclearizar o território brasileiro.
Mais isto não parece ser problema para aqueles
que se tornaram cristãos novos na defesa deste empreendimento, cujo conteúdo do
discurso contém meias verdades, e é capcioso, o que pode levar a população a
cometerem erros de avaliação em seu processo de discernimento e de formação de
opinião.
Deputado estadual Alberto Feitosa,
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Em Pernambuco, o recém convertido deputado
estadual Alberto Feitosa tem se
destacado na defesa das usinas nucleares, inclusive propondo uma emenda a
constituição estadual (Nº 000009/19 de 24/9/2019), para
alterar seu artigo 216, que veda
usinas nucleares no território pernambucano. A redação proposta já induz a
considerar a energia nuclear como uma fonte renovável, com suas vantagens
intrínsecas. Má fé ou mesmo ignorância total? A energia nuclear (minérios
radioativos) não é uma fonte renovável de energia.
Difícil entender esta posição, pois os
argumentos utilizados levam a confundir, e mesmo iludir as pessoas. E que nada
esclarecem e nem colaboram para o debate sério sobre o tema. Talvez a origem
militar, do nobre deputado, tenha contribuído para este posicionamento, de
alinhamento automático aos setores pró-nuclear. Talvez? Porque realmente, do
tema conhece muito pouco, apesar de falar com toda retórica de um pseudo
especialista, formado a “toque de caixa” para desempenhar a sua função, no
intrincado jogo de interesses que envolvem os “negócios da indústria nuclear”
Na justificativa para sua emenda
constitucional, comete maledicências.
Afirmando a competitividade da nucleoeletricidade, cujos custos para
novos empreendimentos seria hoje de R$
480,00/MWh (MegaWatt-hora). Valor este já defasado, segundo o mais recente
Relatório Anual da Industria Nuclear Mundial (WNISR) que aponta para os custos
da energia nuclear entre US$ 112 e US$
189 por MWh. Enquanto a energia eólica situa entre US$ 29 e US$ 56 por MWh,
e a energia solar fotovoltaica entre US$
33 a US$ 44 por MWh.
Na questão ambiental é uma verdadeira falácia
dizer que a energia elétrica produzida pela usina nuclear não emite gases de
efeito estufa (GEE). Não é dito ao
cidadão que para fabricar o combustível de uma usina nuclear, uma série de
processos, envolvendo várias indústrias: desde a mineração, beneficiamento,
conversão, enriquecimento, fabricação das pastilhas de combustível, o
descarte dos resíduos (reprocessamento e armazenamento). Além do processo de
descomissionamento da usina depois de sua vida média de 50 anos. Todo este
conjunto de atividades/processos emitem os chamados GEE, e que devem ser levados
em conta neste falso debate que a energia nuclear é limpa.
Outro aspecto da soberba no discurso infundado
dos prós é a tentativa de minimizar o máximo possível os riscos de acidentes em
uma usina nuclear. Alguns mais fanáticos, mais irresponsáveis, chegam a afirmar
a inexistência de risco de ocorrer um acidente, traduzido como vazamento de
material radioativo para o ar, terra e água. Como verdadeiros “deuses” que tudo
podem, e tudo sabem, na ânsia de
defenderem o indefensável ; subliminarmente passam a ideia que podem controlar
a natureza.
Um exemplo que serviu de alerta foi em Fukushima. Lá a natureza disse a que veio. Um terremoto em
alto mar, provocando ondas gigantescas (tsunamis), inundou e destruiu a casa de
força do complexo nuclear, cortando a energia elétrica que moviam as motobombas
para circulação da água do oceano, e assim deixando de refrigerar os reatores.
Resultado provocado foi o derretimento de 3 reatores dos 6 existentes, seguido
do vazamento de uma extraordinária quantidade de material radioativo para a
natureza, e como consequência as mazelas que este tipo de acidente provoca.
As perguntas que não querem calar são:
“Por
que então vamos correr este risco de um acidente nuclear com vazamento de
radiação no rio São Francisco, se não precisamos para atender nossa demanda por
energia elétrica, e que hoje o nuclear somente
contribui com 1,1% de toda potência elétrica instalada no país?”.
“Por
que recorrer a uma fonte de energia no mínimo polêmica, com alto grau de
periculosidade, se dispomos em abundância de outra fontes fornecidas pela
natureza como Sol, vento, água e matéria orgânica (biomassa)?”
“Por
que recorrer a uma fonte que produz energia cara, e que vai provocar mais ainda
o aumento da fatura para o consumidor final?”
“Por
que deixar para as gerações futuras o problema que ainda hoje é insolúvel, o
que fazer com os resíduos, criados nas usinas nucleares, com elementos químicos
que podem continuar emitindo altas doses de radiação por milhares de anos. Além
das usinas gerarem artificialmente um isótopo do elemento químico plutônio,
considerado o mais nocivo, o mais venenoso de tudo que existe no mundo?”
“Se a
energia nuclear é cara, perigosa e poluente qual o motivo para instalar estas
usinas em nosso país, no Nordeste brasileiro, ao lado do rio São Francisco?”
A não ser que acreditemos ainda num discurso
vazio, já “cansado”, que é o do desenvolvimento (?) para a região, a geração de empregos, de renda, blá, blá, blá.
Esta ladainha já não convence mais os homens e mulheres de bom senso, de boa
vontade, que escutam essa mesma ladainha, para justificar empreendimentos que
só beneficiam alguns (os de sempre), e trazem sérios prejuízos à maioria.
Precisamos impedir mais esta insanidade. Daí a
única força que impedirá mais este atentado a vida, é a força do povo. O que
significa a manifestação da maioria em dizer claramente: NÃO queremos, NÃO
precisamos, e NÃO vamos aceitar a
instalação de usinas nucleares no Brasil, no Nordeste, em Itacuruba.
Olá, sou Mariana Barros, assessora do Deputado Alberto Feitosa. Qual o email direto para contato de vocês?????
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